abril 30, 2011

Meu

Quero parar o tempo enquanto é tempo de estarmos juntos. Enquanto nos olhamos e pensamos e decidimos, e nos beijamos. Quero me perder enquanto respiro o mesmo ar que a tua boca e quando ouço tua voz, e sinto meu coração acelerar e quase sair do meu peito. O que faço com as mãos? Posso te puxar pela camisa, invadir tuas costas, te abraçar bem forte, te fazer um carinho no rosto, e quando vejo já não tenho mais controle. Quanto mais tempo ficas longe, mais te sinto meu. Eu te amo. Tão fácil escrever. Desculpa se não digo mais vezes, só não consigo falar com a mesma facilidade com que escrevo. Mas escrevo com a mesma verdade com que sinto e que eu sei que sentes. Palavra por palavra.

abril 27, 2011

Um Dia Eu Dou

À medida em que me dou conta de que envelheço a cada a dia inevitavelmente, mais valorizo as horas em que me sinto novamente uma adolescente. Às vezes gostaria de me importar menos com o que os outros pensam e me jogar nos meus sonhos com a mesma coragem de antes. Conversar por horas e dar o ombro, um carinho e até um silêncio a um amigo qualquer, em uma tarde ociosa qualquer. Dar uma volta no shopping e gastar quase sem culpa, porque quase não se tem conta pra pagar. E se o dia está chato, sempre se inventa alguma coisa interessante, mesmo que seja uma partida de banco imobiliário ou dar um telefonema de horas. Faço tudo isso até hoje, a diferença é que hoje não tem tanta graça, e hoje já não tenho mais aquela pressa de viver, que faz com que aproveitemos muito mais qualquer riso, qualquer piada, qualquer abraço, qualquer sorte, qualquer encontro, qualquer presente. Nem lembro da última vez em que dei uma carta a alguém que amo, coisa que eu tinha o costume de fazer. Se dermos uma olhadela a nossa volta, as pessoas parecem ser todas iguais e desinteressantes, isso não acontecia quando eu tinha quinze anos e dava sorrisos pra ninguém, andando na rua.
Ok, ainda não me conheço o suficiente pra saber exatamente quem sou, o que quero ou quem quero. Mas será que algum dia alguém tem certeza sobre isso? Às vezes parece que temos mais certeza disso quando somos jovens, porque parece que a partir de certo ponto na vida, passamos a complicar até as coisas mais simples. Os jovens, se não tem, nos dão a certeza de que são felizes, e plenamente. Jovens nunca estão errados e, se estão, é culpa da juventude, imaturidade, ingenuidade, do mundo. Depois que envelhecemos a culpa é sempre nossa, e nós mesmos que nos damos essa culpa. Deveríamos saber tal coisa, ou que tal coisa daria em tal coisa, deveríamos sempre ter dito isto ao invés daquilo, ou feito aquilo ao invés disso e ninguém tem paciência pra imaturidade ou ingenuidade. Tudo isso soa muito burro, falso e hipócrita em quem tem mais de vinte anos. E, digo mais, se o mundo está do jeito que está, seja lá o que quer isso signifique, a culpa é nossa. Tenho vontade de dar um tempo com tudo e todos, às vezes. Quero, um dia, poder dizer que dei a volta por cima de todos os meus problemas e que voltei a dar sorrisos sem motivo, nem que seja pro meu próprio espelho.


Alguém, por favor, me a mão, que eu já estou cansada de dar com os burros n’água, e de não dar em nada.

abril 11, 2011

Pobre Marcelo!




Marcelo deslizou para o carro como se estivesse deslizando para a cama, com aquele andar que muitos achariam sonolento e preguiçoso e que só ele sabia ser motivado. O mundo em seu encalço, o desdém em cada olhar, a cada passo, as lembranças sucendendo umas as outras, pesadas. Marcelo resistiu às lágrimas e rezou para que as palavras que vinham martelando em sua mente deslizassem para sempre pra um lugar qualquer onde ele não estivesse ou sequer chegasse perto.
Marcelo sorriu e reconheceu que, de alguma forma, mais cedo ou mais tarde, a vida lhe sorriria de volta. Afinal, quem tem o costume de questionar a vida acaba ficando sempre com a pulga atrás da orelha; Olhou-se no espelho do retrovisor e orgulhou-se por não cair no choro, já estava cansado de tanto pranto. “Que droga de homem sou eu?” Um xingamento involuntário escapou-lhe dos lábios e ele caiu em si. Não precisava de ninguém pra ser completo, certo?
“Que droga de homem sou eu?” Deu um milésimo último olhar à casa que não estaria mais em seus domingos, que não seria mais seu destino depois de um dia cheio de trabalho e à janela daquele cômodo específico onde muitas vezes, pôde, acompanhado, admirar a vista, do lado de dentro. Agora era o contrário. Resistiu mais uma vez ao impulso de estacionar, tocar a campainha e esperar por ela na porta. Resistiu à vontade de convidá-la a deslizar com ele para dentro do carro, e depois para uma cama qualquer e depois pros seus abraços, pros seus beijos e por tudo o que a eles pertencia. Nunca mais faria isso. Ela tinha vícios vulgares, poemas pobres, risadas escandalosas, hábitos alimentares de gosto duvidoso, a auto-estima exacerbada e ainda era fã de luta. Marcelo odiava tudo isso, e muito. Mas amou o toque macio de suas mãos desde o primeiro encontro, os lábios que estavam sempre em oferecimento, a voz de soprano e o corpo tão bonito que parecia dançar ao ensaiar até os mais simples movimentos. Marcelo ligou o som do carro e começou a cantar num espanhol não muito convincente, com uma voz menos convincente ainda, suas músicas preferidas. E cada verso era uma mentira, uma maldição. O fim já vinha se anunciando há algum tempo, e nunca chegava realmente. Anunciava-se em pequenas atitudes, todos os dias e nunca chegava realmente. E finalmente um dia chegou, sem se anunciar.
Uma palavra menosprezava a outra e Marcelo rezava para que estivesse ouvindo errado, pensando errado, entendendo errado. Quando entendeu, então, que estava era amando errado. Ela nem ligou para a dor de Marcelo. Júlia acabou com tudo, e pareceu não sentir nada, por nada que já tivessem vivido. E Marília queria consolá-lo, mas será que não era ela quem precisava de consolo? Veja bem, Marcelo nem ligava para a dor de Marília. Na verdade, preferia migalhas a ao amor de verdade que lhe era dedicado. Por muito tempo, teve a esperança de conseguir de novo viver com Júlia, de reconsquistá-la, mas os dias passaram cruéis, vazios e sem mudanças. Hoje ele era uma droga de homem qualquer, que andava deslizando pelos cantos, cantando tristes melodias, sem sonhos, sem coragem. Tinha vontade de vomitar quando ouvia alguém dizer que ia ser feliz pra sempre, porque ele não acreditava mais nisso. E Marília desistiu de esperar, desistiu de amá-lo e entregou-se a outro, cada vez mais convicta de que fez a coisa certa.
Marcelo tinha os olhos tão murchos quanto pães dormidos, mas foi com estes olhos que ele viu a vida acontecer pra muitos, muitas Júlias, muitas Marílias e muitos Marcelos. Enquanto ele se prendia a um passado doentio e sem volta, as pessoas acabavam felizes, não para sempre, mas quase sempre. E ele convencia-se de que não nascera para amar ou ser feliz e sim para querer algo que não podia ter, com alguém que não podia lhe dar, sem parar pra ver quem queria lhe ajudar. Marcelo tinha vergonha de si. Vergonha de não ter sido feliz. Eu, no lugar dele, também teria. Às vezes, tenho vontade de consolá-lo. Mas será que não sou eu quem precisa de consolo? Aliás, quem não precisa?

abril 06, 2011

Confissão

Num espaço onde as palavras são desnecessárias e até desprezíveis, numa quarta de manhã tão igual a qualquer outra, em uma sala fechada que protege do sol de sempre, lá de fora, eu confesso que tenho saudades. Recorro ao remédio de sempre, tão ineficaz como sempre, que é o vazio de escrever o que se sente. Amor dói, né? Saudade arde. Cada parte do meu corpo não quer mais nada a não ser se entregar. Que mil e uma noites eu tivesse, morreria feliz no final. Morrer talvez seja o único remédio eficaz. Que muitas coincidências me levem até você, que a sorte te traga pra mim, que os acasos sejam sempre pra nos encontrarmos! Quanto tempo faz? Adoro te sentir perto de mim, mesmo que estejas longe. Certas coisas, na rotina, me trazem essa sensação. Não importa que seja uma sensação ilusória, eu adoro. O telefone que está sempre à espera, o computador que não dá notícias, os assuntos que costumávamos debater e isso pra não falar do nosso amor que era tão puro e perfeito. A liberdade, as manhãs, e até uma certa cor me remetem a um passado não muito distante, e muito recente em meus sonhos. Viver é isso, afinal de contas. Sentir saudades só prova que eu já vivi muitas coisas felizes na minha vida, e que fizeste parte de muitas delas. Ainda estás aqui dentro do meu peito e não sei por quanto tempo assim será, mas se quiseres voltar com certeza nada será como antes. Lembrar e reviver são verbos muito distantes. Te perder de vista não é bom, mas talvez não caiba a mim te buscar. Tua presença significa muitas coisas, nem sempre boas. Sobretudo um amor que eu demorei, mas confessei ser amor para sempre.