abril 29, 2012

Tu sabes, certas coisas são irreversíveis. A gente não desdiz aquilo que disse. Eu falo tanto, te falo tanto. Te escrevo mais ainda. Talvez até demais. Já fiz tantos versos, tantos textos, tantas metáforas, arrisco dizer até que já fiz poesias. Já inventei palavras. Me perdi dentro de tantas estradas que eu mesma construí para que me levassem até onde quer que estivesses. Já não sei se o que me foi dito foi realmente falado, pronunciado ou se fui eu quem inventou. Um olhar nos diz muitas coisas, certo? Então estou errada em te culpar pelo que me dizem teus olhos? Ou são meus olhos os responsáveis por verem demais, procurarem demais? Eu acho que sempre me prendi muito aos teus olhos, afinal. Antes fosse só aos olhos... Em compensação, posso dizer que perdi o costume de te escrever, de ficar falando de ti. Acho que nesse sentido estou mais livre... Ou não, porque aqui estou eu. Acho que perdi o tesão por ti... Ou não, porque sem te ver, agora mesmo posso senti-lo. Acho que não te amo mais... Ou não, porque nunca se deixa de amar. Não, não é verdade que não te escrevo mais porque a minha letra é feia, ou porque ando sem tempo, assim como não é verdade que deixei de te amar. Tudo isso são desculpas que eu invento antes mesmo de pensar em inventar, justificativas que eu arranjo sempre que alguém me cobra um texto nosso. O pior é que eu sei que vais entender se eu disser que não escrevo simplesmente porque eu sou (como sempre fui) boba, e receio teu desprezo por meus textos (ridículos) de amor. O pior é que mesmo correndo o risco de parecer incoerente, desvairada, repetitiva, cansativa, eu te escrevo. Esses teus olhos são muito sacanas mesmo. Brilham pra mim mesmo em pensamento. O problema é que além de brilhar, eles me dizem que querem me ler. E aí, sabe como é, eu escrevo. Não resisto. Não tento reverter uma palavra que seja. E torno a me perder, e a pedir, nem sempre nas entrelinhas, que venhas ao meu encontro.