Em
algum momento, o controle me escapou. Não adianta tentar ser racional se você é
uma criatura loucamente passional e impulsiva. Sim, esta sou eu. Não sei desde
quando ou se vou ser assim pra sempre, justamente porque sou assim. Penso no
passado, no futuro, mas o presente é o que me importa. O momento. O impulso. A
entrega.
O
meu cheiro ficou em ti – ainda bem – porque eu mesma não queria te deixar. Pus
as mãos em ti, já era. E eu poderia falar que pus no sentido mais amplo do
verbo, no sentido de que quero te prender, te agarrar e não te soltar mais. Mas
não é isso. Ainda não. É só a literalidade da palavra que eu quero. Pus as mãos
mesmo, abracei, beijei, só não apertei mais porque não deu tempo.
Certifiquei-me de que eras do meu agrado. Mais que isso: procurei provar pra
mim mesma que não tenho realmente algo de ruim vindo de ti. E isso é tão bom!
E
se tivesses me afastado?
Bom,
ainda corro esse risco. Quero crer que também existe algo dentro de mim que te
agrada. Já conseguiste até me ver de uma maneira que eu mesma acho que nunca
tinha sido vista, e quando comprovas isso, rindo de alguma bobagem que eu
falei, que na hora nem achei tão engraçada, e então eu te olho e estás
realmente rindo, sabe como é? Eu rio por dentro. Tenho vontade de pausar nossas
conversas às vezes. Uma coisa boa como essa não acontece o tempo todo na minha
vida. Uma pessoa boa como eu sei e confio que tu sejas eu já pensei que nem
existia mais. Não aquele homem manipulador, expert em iludir corações
desolados. Não aquele cara cheio de manha, de lábia, papo furado e cantada
barata. Isso não funciona comigo, pode apostar. E eu nunca poderia dizer essas
coisas de ti. Não é assim que vens me conquistando. Eu não gosto de perder o
controle de nada, mas contigo eu perdi. E adorei. Isso deve significar alguma
coisa. Então, eu até tento dominar a coisa toda. Mas confesso que ficar horas
do teu lado, despreocupadamente, só colocando as mãos em ti (opa!), me faz
esquecer metade dos meus problemas, promessas, preocupações e até a minha mania
de me preservar. Aí eu me desarmo, me solto. Porque de alguma maneira consegues
fazer isso comigo. Achei, assumo, que o teu
interesse fosse novo, que de alguma forma eu era mais uma. Bonitinha,
legalzinha, mas só mais uma. Mas não. Tu me falas que o interesse não é de
agora, que eu sou especial. E até inteligente! E engraçada! Que máximo! Ok, resolvi
acreditar. Quando quiseres me afastar, terás um problema daqueles! Me entreguei, viu? Tenho visto a vida
cor-de-rosa ultimamente. E não é de hoje que eu adoro essa cor.