agosto 26, 2011

Marcos

Soubemos da morte sem ele saber que sabíamos, ou assim pensávamos. Marcos não parecia entender, mas não tínhamos como consolá-lo; somente o tempo seria capaz de fazê-lo aceitar que a mãe se fora. Cabelo preto, olhos da mesma cor, pele branca e lisa, que não parecia mesmo pegar sol todo dia, um verdadeiro príncipe de contos de fadas. Lindo como um anjo. E Marcos é um homem inteligente, daqueles que pouco falam, mas sempre se fazem notar. Com o tempo, tudo o que achávamos dele, ia se confirmando. E nós crescemos e mudamos e seguimos nossas vidas, todos nós. Reencontrei Marcos anos depois, numa fila de cinema, ele com a namorada dele e eu com o meu. Não nos falamos, pois nunca fomos amigos. Um aceno de cabeça, um risinho amarelo, um cumprimento quase invisível para nossos acompanhantes, quase como se estivéssemos fazendo algo errado. No fundo, eu sei que ele, de alguma maneira, me notava, não sei por qual motivo. E eu só podia reparar em como ele continuava bonito, e triste. E a fila andou. E nós quatro entramos. E a luzes se apagaram. E então eu pude prestar atenção no filme.