setembro 30, 2010

Cor ação

Quando me beijares, amolece teu coração. Me deixa entrar na tua vida, lembra de mim. Vem pra mim.

setembro 28, 2010

A Foto

Ele estava usando aquela camisa marrom que eu dei em seu último aniversário. De algum modo, sei que foi deliberadamente pra me atingir, pra me remeter àqueles anos em que eu poderia morrer se não o visse. E aquele boné horroroso que eu tanto odiava também estava ali pra me atacar, como quem diz: “Não adianta, nosso caso (dele com o seu dono, é claro) é eterno.” Eu odiava aquele boné porque ele me impedia de olhar nos olhos dele, e escondia o sinal de nascença em forma de flor, ironicamente afeminado pra alguém tão machão e tosco. Eu poderia jurar que aquele velho ar de deboche permanecia no sorriso amarelo que ele me deu, meio que pra se desculpar pelo atraso, meio que pra me seduzir, mas seu charme já não surtia tanto efeito.
“Estou cansado”, ele disse. “Vamos sentar”.
Mas eu ainda estava ali, olhando e pensando como, no fundo, o tempo não havia dissolvido nada. Minha memória foi puxando, um a um, todos os ecos do passado que ainda rondavam nós dois. Dissolvi num instante quaisquer expectativas que pudesse ter, e de repente me vi dizendo: “Estou bem de pé.” Ele, é claro, levantou-se irritado, porque eu sempre fazia o que ele queria; como ousava me rebelar agora? Não passou pela sua cabeça sempre tão egoísta que eu só fazia isso porque o amava e agora... Bem, as coisas eram, pelo menos, um pouco diferentes.
“E aí– ele começou – vais me desculpar ou não?” Com um olhar pedante e forçosamente subordinado, foi tudo o que ele conseguiu dizer. Um sorriso quase me escapa dos lábios, era tão fácil pedir desculpas que eu quase ri daquela tentativa débil que praticamente exigia desculpas. Quase ri porque essa mesma tentativa funcionou várias vezes e por mais que eu dissesse que agora, as coisas eram diferentes, ele insistia na tática de antes. Quase ri daquela teimosia inútil dele! Quase. Foi por pouco. Mas eu não ri. Em vez disso, tentei me concentrar em tudo o que tinha pra dizer. Olhei várias vezes pros lados, como que à procura de alguma coisa que me fizesse ganhar tempo. Disse apenas “Estás desculpado.”
Eu dissera apenas isto, mas ele entendeu (ou quis entender) muito mais. Como se eu tivesse dito que queria tê-lo novamente, abriu os braços e procurou minha boca. Afastei-me depressa, com um ar reticente, que eu esperava que o dissesse que aquela conversa terminava ali. Com uma naturalidade forçada, ele deu de ombros, como quem pouco se importa, mas como quem percebe, afinal de contas, que o jogo não está ganho. Tentou, então, mudar pra um assunto mais leve. “Já falaste com a Karla?” Balancei a cabeça. Ele sabia que não, que eu nem sabia onde a minha amiga estava. “Ela perguntou por ti. Ta lá atrás.” Dei as costas e fui dar um abraço na Karla, dar um oi, acima de tudo porque fiquei maravilhada em ter outra coisa pra fazer que não insistir naquela conversa dolorida. “Eu vou lá falar com ela, então. Falo contigo mais tarde.”
A verdade era que eu não queria mais falar com ele. Nem agora, nem mais tarde. Tenho certeza que ele percebeu o indisfarçável alívio na minha voz. Fiz de conta que não vi e saí. Tentou várias vezes me chamar, mas eu estava conversando animadamente, tive uma oportunidade de adiar aquele diálogo e me agarrei a ela. Como se percebesse isso, ele entrou na casa e, quando voltou, trazia um pedaço do meu passado na mão. Colocou-o na minha frente e disse: “Por favor.”
Involuntariamente fui tomada por aquela paralisia ridícula que eu sentia quando lembrava de como éramos felizes. Peguei o porta-retrato e olhei pra imagem à minha frente: Um casal apaixonado dentro do carro, sorrindo para a câmera. Tenho quase certeza que a Karlinha que bateu essa foto, num daqueles dias em que ele me ensinava a dirigir. Nunca me livraria dele completamente, é fato. Não percebi como as coisas aconteceram exatamente, eu nunca quis fazer aquilo. Sem querer, o porta-retrato despencou dos meus dedos, frios e duros e foi parar no chão. O vidro quebrado reluzia aos nossos pés e, para os poucos amigos que estavam ali por perto, pareceu que foi de propósito. Mas eu nunca faria isso com o nosso amor, mesmo se deixasse de ser amor.
Sorri, a despeito dos olhares de acusação, mas não pude encará-lo. Ele estava pasmado. Desejei, com toda a minha força, não ter feito aquilo. Mas não pude, obviamente, voltar atrás. Tive que encará-lo, então. Naqueles olhos que me eram sempre tão confiantes, vi pela primeira ou segunda vez o brilho de lágrimas. Meus olhos também molharam meu rosto e afinal me enfureci. Será que ele me achava tão infantil pra acreditar que eu quebraria um porta-retrato, aquele porta-retrato, sem remorso nenhum? Bem, se ele me achava infantil, ia ter um motivo para isso. Bati a porta atrás de mim, com bastante barulho porque queria chamar atenção. Queria fugir daqueles cacos reluzentes que me fitavam da lajota, me enchendo de culpa. Queria que ele corresse ao meu encontro me pedindo ou me exigindo desculpas.
Teimoso, como sempre, ele não foi. Fingiu não perceber o que eu queria. Tratou-me com desprezo total. Pensei ter ouvido o som da nossa foto sendo rasgada ao meio, imaginei inúmeras cenas dramáticas em um só minuto. Tolice. Não seria tudo mais fácil se eu fosse lá e dissesse que não fiz por mal? Nunca pensei que terminaríamos desse jeito, mas assim foi. Abri a porta pra sair, mas ele entrou. Eu sabia que ele já queria esse término há algum tempo, mesmo que fingisse que não. Por muito tempo, eu sorri, quando por dentro tinha raiva. Eu era tolerante quando, no fundo, o achava ridículo.
Contrariando tudo isso, ele me abraçou e disse que entendia, que o nosso amor tinha se transformado em outra coisa. Falou até que eu era importante pra ele! Eu retribuí os carinhos e, pela primeira vez, nós nos entendemos perfeitamente. Eu pedi desculpas e ele reconheceu que eu tinha direito a errar também, depois de tanto tempo me fazendo de perfeita. Sorrimos. Então, agora, estava tudo em paz. Não haveria mais brigas, cenas, choros. Mas antes tinha a foto. Tomei coragem e voltei para juntar os cacos. Percebi que ele veio junto. Estranho, mas o casal da foto olhava pra gente sem entender. O que será que aconteceu com nós dois? O que aconteceu com eles? O porta-retrato se quebrou em cacos. Tal qual nosso amor.

Levantou-se

Deitada na cama, alheia ao calor que a fazia suar e fingindo que estava pouco se importando com a maldita falta de energia elétrica pela terceira vez consecutiva em uma só semana, pôs-se a pensar na incrível cena que se configurava ao seu redor, ou melhor, no incrível rumo que as coisas e as pessoas, em sua vida, estavam tomando. Mas estava feliz, porque gostava de confusão, porque era confusão. Porque durante muito tempo o que era certo a agradava, mas agora já não sentia o mesmo. De repente, mudou de posição. Sentou-se. Mas continuou pensando naquele mundo insólito que a cercava. Viu-se, pela primeira vez, como alguém que não apenas espera, mas age. Alguém que não apenas confia, testa. Alguém que não apenas quer ser feliz, mas quer ser compreendida. Levantou-se, afinal, quem senta é porque espera alguma coisa e ela não queria mais saber de esperar. Andou de um lado para o outro, com uma inquietação que lhe era tão incomum quanto esperada, pois agora ela estava se vendo como narradora-personagem, e deveria agir como tal. Quem sabe assim conseguiria tudo o que sempre quis.

setembro 26, 2010

Agonia

Não faz muito tempo reparei que entro aqui sem nem saber o porquê de estar entrando e acabo a postagem sabendo menos ainda. Mesmo tendo abordado qualquer coisa que, com toda certeza, seja um pouco de mim. Acho mesmo que o que importa é nunca perder esse estalo, esse impulso de escrever algo que faz parte da minha natureza, daquilo de que sou feita. Ah, e quando esse estalo fica um tempo sem aparecer, que agonia que é! Tudo bem que posso simplesmente pegar poemas e textos de outros autores e compartilhá-los, posso perfeitamente me reconhecer em obras alheias, mas não criei este blog exclusivamente para expor meus sentimentos idéias. Escrever é ao mesmo tempo, um remédio e uma arma, portanto me sinto completamente desamparada quando fico muito tempo sem esse estalo que tão bem organiza minhas palavras antes mesmo de meus pensamentos. Queria escrever um milhão de sentimentos meus, um "mix" de saudade, incerteza, amor (como sempre) e surpresa, mas esse estalo de domingo fica por aqui.

setembro 21, 2010

O Poço

"(...)Dá-me amor, me sorri
e me ajuda a ser bom.
Não te firas em mim, seria inútil,
não me firas a mim porque te feres.(...)"

Pablo Neruda

Drummond

Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade.

Sol e Samba

Como te tenho
O quanto me passo
De tanto que espero
Enquanto eu sigo
Labirinto meu
Tu sonhas a força
Tu queres a certeza
Labutas teus sonhos
Alas teus pés
Labirinto teu
Azul é o samba
Dourado é o olhar
Com a perna bamba
Te vejo chegar
Quero te ver passar
Te fazer sonhar
Te fazer me esperar
Enquanto eu sigo
Bonita e tardia
O dourado caminho do teu olhar
A dor da saudade
Levou meu sorriso
Chegou sem aviso
Escurece minha vida
Pra clarear
O dourado do teu olhar
Vem amor
Vem sambar

A Culpa É Sua

O tráfico de drogas escreve a vida e a morte de muitas pessoas. É quase como se os traficantes fossem os produtores, diretores, roteiristas de uma peça; na qual eles decidem prontamente quem vai chegar até o final, quem vai morrer logo no primeiro ato, ou talvez no segundo, tanto faz. Porque, na realidade, é isso o que acontece. E é muito comum ouvirmos lamentações acerca das “vidas inocentes” que o tráfico tirou; é muito comum, e até muito fácil, reclamar das ações – ou da inércia – da polícia; mas eu nunca vi, ou ouvi, alguém se conscientizar da própria culpa. A culpa é sua, minha, nossa. Todos somos culpados.
Somos culpados quando passamos pelo sinal e ignoramos as crianças pedindo esmolas, somos culpados quando agimos com preconceito, somos culpados quando excluímos. Somos culpados quando achamos, de maneira mais hipócrita impossível, que o simples fato de sermos “plateia” não nos faz atores. Até que ponto podemos dizer que somos inocentes? Até que ponto podemos dizer que somos vítimas, se somos, também, algozes? Quando o tráfico mata alguém aparentemente, por engano, ou de maneira indireta, é cruel, é triste, principalmente para a família dessa pessoa, mas isso não quer dizer que ela seja inteiramente inocente.
O desrespeito ao próximo alimenta a intolerância que, por sua vez, destrói a capacidade de discernir o que é “certo” e o que não é. Esse discernimento é essencial para a vida em sociedade de maneira construtiva. Pessoas desrespeitadas tendem a se sentir fora, à margem da sociedade. Essas são as verdadeiras vítimas. Vítimas do sistema fortemente discriminatório e competitivo, que insiste em pisoteá-las. Vítimas da corrupção de políticos covardes e sem vergonha na cara. Essas pessoas são mais que vítimas, são massa de manobra, são marionetes que caem, lamentavelmente, nas mãos do tráfico.
Por isso e, para o nosso próprio bem, já que só conseguimos olhar para o próprio umbigo, é importante que comecemos a mudar nossos hábitos e nossas ações. Além de reclamar de tudo o que há de errado, façamos aquilo que devemos fazer: unir, em vez de separar. Não estou pedindo para que você dê dinheiro no sinal ou leve um mendigo pra dormir na sua casa, embora eu já tenha pensado em fazer isso, acredite. Eu clamo é por tolerância, respeito e inclusão social. Abandonar nossas crianças é a mesma coisa que entregá-las nas mãos de bandidos, a mercê de traficantes ou da violência das ruas.
Quando abrimos mão de educar, em nosso lugar, vem alguém que não hesita em ensinar a atirar. Quando fingimos não ver o excluído, uma hora ele cansa e vai se fazer ser visto, nem que pra isso tenha que estar com uma arma na mão.
E não pense que quando as cortinas se fecharem você ainda estará na platéia. O mundo dá muitas e muitas voltas. E numa delas você pode parar na mira de um revólver. Seja você inocente ou não. O tráfico é forte e impiedoso. O tráfico é trágico.

Cansei

Já dizia Shakespeare que o cansaço ronca em cima de uma pedra, enquanto a indolência acha duro o melhor travesseiro. Quanto à indolência, não me atrevo a opinar, mas quanto ao cansaço, sinceramente até hoje ainda não vi descrição melhor que esta. Por que o cansaço, veja bem, não é simplesmente a falta da força. O cansaço invade sem que percebamos e quando nos damos conta, lá está ele, de mãos dadas com a desistência, rindo das nossas vontades. O estresse é o melhor amigo do cansaço, que é apaixonado pela preguiça, coisa que todos sentimos pelo menos uma vez todo dia. Às vezes ele te faz chorar, te faz sentir raiva, te faz sentir só. Às vezes ele é gostoso, bem-vindo, querido e até te leva pra cama, só na manha. Parece um namorado apaixonado que simplesmente não consegue te largar e que você não quer que te largue. Mas não se engane: no fundo, o cansaço é aquilo que sentimos no final de cada batalha perdida. Não adianta gritar, brigar ou justificar o que quer que seja, o melhor mesmo é se render. Não evite, não fuja. Conforme-se e aceite que tudo o que havia para ser dito, já foi. Canse bastante pra depois descansar tranqüilo. E deite-se com ele sem remorso quando sentir vontade.

setembro 18, 2010

A Dança

Não te amo como se fosse rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo:
te amo secretamente, entre a sombra e a alma.
.
Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascender da terra.
.
Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
te amo directamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
.
Se não assim deste modo em que não sou nem és
tão perto que a tua mão sobre meu peito é minha
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.

Pablo Neruda

Com par tilhando

Por que condenar um relacionamento homossexual se nele houver respeito e companheirismo? Por que diferenciar o branco do negro se o branco não tem nada que o negro não tenha, e vice-versa? Por que criar divisórias, barreiras, preconceitos que nos separam, cada vez mais, uns dos outros? Alguém, por favor, me explique o que há de errado com a diferença.
Pra que se importar tanto com a beleza exterior, se sabemos que, quando nos apaixonamos por alguém, é a personalidade única daquele ser que nos encanta? Aliás, como saber o que é belo e o que não é? Será que é verdade que só somos felizes quando não o sabemos? O que é felicidade, afinal? Você consegue definir? Não? Cuidado! Já ouvi dizer que se não conseguimos definir algo, é porque não conhecemos tal coisa. Quero crer que você é feliz.
Como pode ser tão fácil e, ao mesmo tempo, tão difícil, crescer e viver como adulto? Contudo, um dia você consegue explicar para si mesmo o porquê de tantos porquês.
As pessoas precisam, desesperadamente, colorir suas vidas. Precisam, indubitavelmente, compartilhar da mesma dor que aqueles que são excluídos sentem todos os dias, através de olhares, falas e piadas preconceituosas. Diferenças são tão importantes e unem tanto quanto semelhanças ou afinidades. Não temos o direito de questionar as preferências dos outros. São elas que os fazem ser quem são. Eu não sou a Nathália porque sou branca, baixa, magra ou qualquer outra coisa boba, aparente e superficial. Eu sou do jeito que eu quero, do jeito que prefiro, do jeito que me convém. Sou tão livre quanto qualquer outra pessoa pode ser. E isso não é muito, é verdade. Mas é o bastante para que eu me mostre. Preconceito é a coisa mais imbecil que existe.

setembro 13, 2010

A Filosofia e Eu

Não posso dizer exatamente desde quando a filosofia me fascina, mas posso dizer e, com muita certeza, de que é uma das minhas áreas do conhecimento favoritas. É claro que isso depende muito de quem você costuma ler, por que tem alguns filósofos que, mesmo para mim, são uma chatice. Enfim, isso acontece o tempo todo. Às vezes, você adora literatura, mas não consegue ler nem duas páginas de livros considerados de valor altamente significativos. O fato é que a filosofia é muito mais que uma obra ou outra, um devaneio ou outro. A filosofia é conquistadora, quando você entende e reconhece o valor que ela possui.
Muitas pessoas, conscientemente ou não, diante de todas as modernidades e praticidades dos tempos atuais, tendem a duvidar que a Filosofia valha mais que controvérsias sobre temas impossíveis e inalcançáveis e pensamentos quase que incompreensíveis. Esta visão, totalmente desprestigiada, resulta da falsa idéia de que a Filosofia serve para alcançar uma verdade absoluta, ou alguma resposta absolutamente verdadeira. Como se alguém, nesse mundo, fosse capaz de tal proeza.
O valor da filosofia está na mente de quem a defere. Aqueles que lhe são indiferentes, só poderão ver esse valor na vida daqueles que a reconhecem. Os indiferentes acham o estudo da filosofia “uma perda de tempo”. São pessoas que se enganam todos os dias, achando que a vida corriqueira e prática e os bens materiais são muito mais importantes que o bem da mente. São pessoas que acham que pensam por si mesmas, mas na verdade só pensam aquilo que os outros pensam ou querem que pensem. São pessoas que alimentam o corpo, mas não a alma, nem a cabeça. “Adotar uma filosofia de vida”, como muitos dizem por aí, não é apenas pensar de um jeito e achar que só o seu jeito de pensar é o certo. Viver filosoficamente é pensar na vida como algo que está além da nossa compreensão, mas que nem por isso devemos nos resignar com as respostas que nos são dadas, e aceitá-las simplesmente. Viver filosoficamente é entender que o mundo muda a todo segundo, e que você tem que saber lidar com isso. Viver é pensar, filosofar. Filosofia é vida. É sensibilidade. E viver não pode ser perda de tempo para ninguém.
Eu não sou filósofa, e sinceramente não pretendo ser, mas me orgulho em dizer que faço filosofia todos os dias. Faço porque aspiro conhecimento. Tenho convicções, preconceitos e crenças como todos nós, seres humanos, temos. Mas isso não me impede de maneira alguma de mudar de opinião, ou de reconhecer a minha dependência de respostas, a minha necessidade de entender até o que é impossível de se entender. Sempre que preciso, é bom fazer um auto-exame dos nossos valores, modos de pensar e etc. São essas coisas que fazem você ser quem realmente é, e não o que você tem ou que você veste ou qualquer coisa assim, mais superficial. E se você não pensa nada, você não é nada, acaba sendo só mais um no meio da multidão. E se você pensa sempre a mesma coisa, acaba ficando no passado, pois o futuro não é dos radicais.
As pessoas reclamam que a filosofia é complicada, vaga e inútil. Já ouvi até dizerem que “filosofia é coisa pra rico”. Como se os pobres fossem seres não-pensantes. O que quase ninguém entende é que a filosofia é vaga porque, se assim não for, não será filosofia. Se você pensar em uma coisa e puder explicá-la e comprová-la, bem, essa coisa já não faz parte da filosofia. Nada que pode ser explicado faz parte da filosofia. Porque a filosofia é simplesmente o não saber, é a busca por uma razão que pode até ser entendida, mas nunca comprovada. A filosofia é a dúvida inerente a qualquer pessoa.
Eu entendo que a filosofia valha para manter vivos os pontos de interrogação que trazemos conosco desde quando começamos a pensar. Esse poder de especulação vem sendo deixado de lado desde sempre. Ao longo da história, sempre teve aquele indivíduo que se deixa contaminar e se importar apenas com aquelas questões que podem ser comprovadas. Parece que esse tipo de gente sabe de tudo, não é? E o pior é que essas pessoas estão, cada vez mais, em número maior na sociedade. Poucos são os que se mostram interessados em especular, em buscar, divagar, estudar as possíveis respostas. Ou até, as impossíveis. É uma pena. Se todo mundo ficar, de repente, tão dogmático, ou que será de nós, amantes da filosofia, adoradores da dúvida?

Mais

Querer e amar, amor, querendo mais
Doendo e sorrindo, amor, eu peço mais
Arremessada ao vento, de encontro
À rocha do teu coração.

setembro 12, 2010

William Shakespeare

O amor é como a criança: deseja tudo o que vê

Ahh, chega de malfeituras...!

Mesmo com a proximidade da eleição de outubro, apenas algumas pesquisas, encomendadas pelos próprios partidos interessados, parecem ter sido divulgadas. Interessante, não? A rejeição elevada à governadora Ana Júlia tem apavorado os petistas que, por sua vez, vêm tentando melhorar este quadro, através de ações eleitoreiras. Há que se reconhecer que, mesmo em decadência, decadência essa que se dá justamente por causa de tais ações, esta rejeição não deixa de tirar o sono dos petistas.
Do lado tucano o que se percebe é a incerteza dos próprios tucanos com o resultado da campanha. Sem recursos suficientes para a disputa, a coligação de Jatene tem que se contentar com o apoio de poucos partidos e tirar proveito do fato de que algumas empresas estariam interessadas em sua volta ao poder.
A atual conjuntura política paraense já projeta o tamanho da desilusão, seja de quem for a vitória. Que maravilha de mudança nos espera!

setembro 08, 2010

Chorar Faz Parte

Chorar é um pouco triste, mas às vezes é inevitável. Ontem foi uma dessas vezes, um daqueles dias em que parece que, por mais que se tente evitar, o choro acaba saindo. E não adiantou tentar disfarçar, tentar me esconder pra que ninguém percebesse, porque parecia que era exatamente o que todos queriam ver, mesmo que inconscientemente.
Não sei se faço bem em deixar que me vejam chorar, mas afinal, que escolha tenho eu? Se, de repente, você acorda feliz da vida, cheia de planos para o seu dia, animada mesmo e, do nada, alguém resolve te frustrar, te magoar, te chatear e até te irritar, uma hora, por mais durona que você seja, você desaba. E acredite, eu NÃO SEI SER DURONA (mais uma pra minha lista). Quando duas das pessoas que você mais gosta no mundo acabam te deixando triste, as lágrimas são quase que imbatíveis. “Não é chique chorar em público”, é o que dizem, mas eu pergunto: “Nessas horas, alguém se lembra disso?”
Ainda bem que não foi preciso uma crise de choro (o que me deixaria com olheiras profundas e um nariz gigantesco e rosado), tudo se resolveu relativamente rápido, e surpreendentemente bem, diga-se de passagem. Mas eu preferiria ter chorado rios de raiva e tudo o mais, do que me sentir uma completa idiota, que foi como me senti ontem. Triste, né? Credo, fazia séculos que eu não me sentia assim.
O que será pior? Chorar por não ser como você gostaria de ser? Ou chorar por não ser aquela que gostariam que você fosse? As pessoas sempre pedem pra eu entender, pra eu me acalmar, acreditar, confiar... Mas e se eu não for capaz? E se eu, simplesmente, não quiser? Representar, segurar o choro é tão angustiante quanto o que te faz chorar.
Hoje, eu estou feliz, completamente feliz. E o que eu deixo pra você que está lendo isso é mais do que queixas, dramas e reclamações. É mais que um desabafo: é a certeza de que chorar é bom, e realmente acalma. Se você ficar com vontade de chorar, seja pelo motivo que for, não segure, chore. Se você puder se controlar, é claro, controle-se. Mas se você for como eu, desde sempre conhecida como uma “banana chorona”, jogue tudo pro alto e chore mesmo. Não esconda suas aflições. Quem disse que quem chora é fraco? Fraqueza é não saber chorar, ou não ter porque chorar. É como alguém que não vê graça em nada e consequentemente não tem motivos pra sorrir, e quando os tem, não sorri, porque não sabe.
Bobagem esse negócio de chorar com classe, chorar escondido. Bom mesmo é chorar no colo de alguém e receber a mão que te coloca pra cima. Seja de uma amiga, do namorado ou a de Deus. E quando levantar, lembre-se, a vida existe para que a vivamos com dignidade. E chorar, assim como sorrir, faz parte da vida. Sorria sempre e chore quando sentir vontade, mas não deixe nunca de tentar ser feliz.

Pela Legalização

Uma das mais antigas e importantes lutas feministas é a luta pela legalização do aborto. Antes de decidir se você é contra ou a favor, antes faça uma cuidadosa, profunda, generosa e sensível análise deste dilema. Não adianta muito entrarmos no âmbito das questões fundamentalistas, convencionais, morais e etc, etc que a nossa sociedade muito hipocritamente defende.
Políticas públicas devem ser pautadas em consonância com o Direito e a Justiça. E aí sim, veja bem, o debate se faz necessário. O que é justo para você? Será que o mesmo é justo para mim? Quando se trata de políticas públicas devemos pensar no coletivo, não no individual. Particularmente, eu não faria um aborto. E eu não faria por um monte de motivos que, no parágrafo anterior, considerei irrelevantes. Entretanto, esta é uma escolha minha e que pode mudar, inclusive.
Mesmo assim, sempre levantei minha voz em favor desta causa. Sou a favor de uma vida livre para as mulheres. Assim como nenhuma mulher deve ser impedida de ser mãe, nenhuma mulher deve ser obrigada. Sempre achei estapafúrdia a lei que permite o aborto nos casos de violência sexual. É de uma hipocrisia sem tamanho! Quer dizer que tirar o feto resultante deste tipo de relação é moralmente aceito, enquanto que tirar um feto por qualquer outro motivo (sem querer banalizar, é claro) é um assassinato? Pelo amor de Deus!
Se você concorda comigo, levante essa bandeira pela legalização do aborto com restrições de idade da criança e condições sociais de vida. Pela legalização do aborto principalmente pela abolição da prática clandestina, que já vitimou inúmeras mulheres Brasil afora e das más execuções desta. Quando a sociedade tirar da cabeça que a simples legalização do aborto não vai fazer deste uma rotina (Por favor! Abortar não deve ser nem um pouco prazeroso!), talvez respeite esse dilema pelo qual somos todos responsáveis subjetivamente. Pela legalização, pelas garantias sociais, pelo respeito.

Desculpas Para Invejar

É fato que só invejamos aquilo que é belo, aquilo que, em nossa opinião, é o melhor. Eu invejo talentos. Não que eu não seja especialmente talentosa, sinceramente eu acho que todos temos algo que nos diferencia uns dos outros; mas eu não vou revelar aqui minhas maiores qualidades, e sim as minhas limitações. Acreditem, se estou escrevendo isso é por que preciso me livrar deste triste pensamento que não quer me largar: “Como eu sou invejosa!”
Quanta coisa eu já aprendi! Quanta coisa eu já conheço! Deveria me dar por satisfeita simplesmente pelas coisas que eu sei. Mas as coisas que eu não sei (ou não sei fazer bem), em vez de serem metas, objetivos a ser conquistados, acabam se tornando desculpas minhas para invejar, uma vez que o pecado da preguiça (de aprender) é muito mais forte em mim, e acaba vencendo.

Coisas que eu (ainda) não sei:

- Falar italiano.
- Estar sempre linda, maquiada e gostosa.
- Organizar meus horários de estudo.
- Cantar
- Ser mais misteriosa.
- Ser mais fechada.
- Correr ou nadar rápido.
- Inventar apelidos.
- Ser engraçada.
- Controlar meus cartões de crédito.
- Desistir das minhas amizades.
- Perder
- Controlar ou evitar pensamentos desprezíveis.
- Ser meiga
- Proteger sempre todos que eu amo
- Trabalhos segundo as regras da ABNT
- Costurar
- Fazer pudim.
- Ter saco pra aturar raps.
- Não sentir inveja de quem sabe fazer tudo isso e não pensa em besteiras desse tipo.

Quedrogadevida!

Fim

Tocar o chão, respirar, dançar, esquecer.
Sentir a dança, cair, suspirar, lembrar.
Dançar a dor, dançar o caos, dançar o choro, saudar meu corpo.
Salvar em vão, esperar então.

Vira-me, joga-me, respira-me.
Ouça-me, mexa-me, toca-me.
Um movimento cresce em mim.
Sabeis desde já.

Meu cambalear é uma mentira verdadeira
Saio desembestada numa fuga
Pra uma ruína derradeira

A música parou.
A dança se acabou.
Não toco mais o chão.

setembro 07, 2010

Vontade De Voar

Vivo com a cabeça no “mundo da lua”, muitos dizem. Se é verdade absoluta, nem eu mesma sei. O fato é que, o que pode ser bastante aborrecido para alguns, para mim é delicioso. Não há nada mais bonito do que olhar distraidamente para qualquer lugar, pensar em várias coisas ao mesmo tempo e até pensar em nada. Hoje a tarde, enquanto todos estavam muito ocupados aqui em casa, fui até a janela do meu quarto e fiquei ali por um bom tempo. Olhei o céu, as casas, as pessoas nas ruas, as pessoas nos carros, os cachorros de rua, os gatos nos muros de suas casas, o sol, o céu de novo, os pássaros... E fiquei olhando para estes últimos. Olhando e pensando em como são, de certa forma, mágicos. Na hora eu pensei em fazer uma poesia, ou até em escrever um conto, depois desisti. Por mais que eu pensasse, palavras não foram bastantes para descrever o tamanho da minha admiração, carinho e, sim... Inveja desses animais tão abençoados. Subitamente, e por mais insano que possa parecer, me deu uma vontade enorme de voar.


E você pode até pensar que é besteira minha ou ingratidão com Deus, já que ele me permitiu pensar, raciocinar, falar, em vez de me dar asas, penas, o dom de cantar lindamente e morar em árvores. Mas acredite, naquele instante, eu trocaria a minha vida pela de um pássaro qualquer. Passou pela minha cabeça, também, que cada pássaro deve ter uma função especial, seja ela de simbolizar a paz, como as pombinhas, de simbolizar o verão, como as andorinhas, de divertir as pessoas, como os papagaios falantes, e até de agouro, como muitos acreditam que assim o fazem as corujas, gralhas, corvos e etc.

Quando ia pra Mosqueiro, há algum tempo atrás, e ficava na casa da minha avó, que tem um quintal imenso, eu sempre colocava em cima do muro pedaços de pão, de frutas e até sementes depois do café da manhã e do lanche da tarde. Era uma maravilha observar a grande quantidade de aves que ali apareciam e que pareciam se debruçar e apreciar um banquete. Às vezes até havia algumas rixas. Lembro-me bem que o bem-te-vi era quase sempre o mais encrenqueiro, mas todos eram umas graças. Eu não ousava me aproximar, pois eles fugiam ao menor e qualquer sinal de tentativa minha, mas eu não me importava. Sempre fui fascinada por bichos e preferia mantê-los ali, ao alcance da minha vista e, ao mesmo tempo, longe das minhas mãos, mesmo que eles nunca mais voltassem. Mas eles sempre voltavam! E quando eu vinha embora, que falta isso me fazia! Aqui eu moro em apartamento, e não tenho muro. E não é que, em algumas raríssimas vezes, flagrei passarinhos na cozinha? Mesmo assim, fica muito mais difícil manter esse tipo de contato, o jeito é olhar pela janela mesmo.

Pois bem, se eu fosse um pássaro, faria questão de passar cada dia num lugar, mesmo que isso implicasse numa total desestruturação nos fluxos migratórios naturais da minha espécie. Eu apareceria em todos os biomas possíveis, mesmo que isso surpreendesse os biólogos mais experientes. E então eu vi que, humana e limitada como sou, mesmo assim, talvez eu ainda seja mais abençoada que o mais lindo dos pássaros. Abrir mão da sabedoria a favor do instinto? Não, eu não estaria preparada. Voar deve ser surreal, fascinante, esplêndido. Mas também se pode voar com os pés no chão, talvez sem o mesmo brilho, sem a mesma graça, mas todos podemos abrir asas e voar para onde quisermos.

Nós, homens, somos livres, e mesmo que estejamos trancafiados em alguma cela, ainda assim, podemos voar. Os pobres coitados dos pássaros só têm as asas para alçar vôo, e isso quando algum famigerado não os coloca dentro de gaiolas, privando-os do indescritível espetáculo de voar.

setembro 02, 2010

De Bandeja

Pegue, use, beba, coma, jogue fora. Apareça, grite. Esconda-se. Disfarce, finja, vista, ande, corra, fuja. Fume. Apague o cigarro. Cante, pule, dance. Fale, obrigue. Explique, incentive. Aventure-se. Estabeleça um limite. Ultrapasse o limite. Ria do limite. Plante uma árvore. Esqueça seu nome. Leve, traga, ponha, deixe. Acredite, desfaleça;




Incorporamos, aceitamos, conformamo-nos. Comemos de tudo, queremos de tudo. O bom e o ruim, o doce e o salgado, o que é saudável e o que não é. Por causa, é claro, do capitalismo exacerbado, pegamos de bandeja não apenas o que nos faz bem, não se engane: a verdade é que engolimos sem um só copo d’água tudo o que há de podre, irreal e cru que nos é exposto. E você ainda acha que não é corrompido, influenciado ou alienado. Ah, tenha dó!. Salve o Primeiro Mundo, Salve a Emergência Econômica.

setembro 01, 2010

Sai Pra Lá

Por mais que você esteja convencido de que só conhece gente bacana, de que seleciona com carinho seus contatos no MSN e tudo mais, sempre tem um chato pra encher o saco. É aquele (ou aquela) que faz questão de simplesmente ignorar o seu estado OCUPADO, pra perguntar qualquer chatice idiota que ele considera, de alguma maneira, interessante.
Gente, tudo bem, todo mundo tem direito de perturbar, às vezes e, além do mais, se você não quer que falem com você, ainda lhe restam algumas alternativas como excluir, bloquear, ficar “off” ou simplesmente “não entrar” no MSN. Mas sejamos realistas: tem gente que extrapola. Mal você entra e a pessoa já ta querendo conversa? Isso sem falar daqueles que ficam chamando a atenção de cinco em cinco minutos, mandando beijinhos e todas essas chatices. PeloAmorDeDeus! Parece que (sério, eu juro que já considerei essa possibilidade) tem gente que nasceu só pra azucrinar a vida da gente. Tenho vontade de chorar quando encontro certas criaturas. Deve ter algum ponto positivo nisso, além de nos forçar a ser pacientes e tolerantes... Deve ter!
Também confesso que me pergunto como certas pessoas SE agüentam... Só muito amor-próprio mesmo. Isso deve vir de família... Deve ser hereditário, afinal, um chato não pode viver sozinho; tem sempre que ter um outro chato pra aturar, ou amar, que seja. Ok, tudo isso é relativo, quem (ou o que) for chato pra mim, pode não ser pra você e tal tal tal. Mas eu não vim aqui relativizar. Ah, cansei de ser paciente e ter que aturar gente inconveniente. E por favor, você, Chatonildo da Silva, não me leve a mal, mas sai pra lá! De chata, aqui, já basta eu. E pra você que, é muito bacana, continue assim... De verdade. Não vai querer que alguém se irrite tanto com você a ponto de escrever um texto desses em sua homenagem... Vai ficar chato, né?