dezembro 18, 2010

Evolução

Estes últimos dias do ano são ótimos para aqueles que, como eu, adoram se perder em idéias, planos, balanços, do que foi o ano quase passado e do que será o ano que vem pela frente. Pela primeira vez, tenho certeza de que cheguei a uma nova etapa da minha vida. Afinal, termino este ano com a notícia de que serei mãe. De certa forma, nada pode ser mais inédito, surpreendente e desafiador.
Sem saber se já evoluí o bastante para isso, me sinto totalmente feliz com a idéia. E quando falo em evolução, não quero dizer se biologicamente estou pronta. Na verdade, a evolução a que me refiro remete ao plano espiritual, das idéias, das doações, das renúncias que toda mãe faz. Pela primeira vez na vida, vou amar alguém mais do que a mim mesma. Acho até que já amo. Namoro a minha barriga todos dias, imagino seu rosto, suas risadas, seus choros. Será que já evoluí o bastante para me doar desta forma?  
Grandes mudanças estão chegando, pouco a pouco. Tem dias em que eu me assusto, tem dias em que me emociono. Não sei como serão os próximos sete meses, mas rezo para que dê tudo certo, e que meu filhinho (ou filhinha) nasça com muita saúde, bondade, e amor no coração. Luto contra o medo, porque me disseram que tudo o que eu sinto, o bebê já sente e a insegurança é nossa maior inimiga agora. Realmente, ser mãe é padecer no paraíso. Se antes, eu já era sonhadora e idealista, hoje sou mil vezes mais. Quero um mundo muito, mas muito, melhor. Um mundo merecedor dessa criança que vai ser a minha vida.
Mais do que nunca, peço aos céus que as pessoas sejam mais sábias, que caminhem mais de mãos dadas em vez de atropelando o próximo, que percam crueldade e ganhem compaixão, que evoluam. Também eu tenho que melhorar muito para merecer quem já está dentro de mim. Quero que ele me ame, e que sinta orgulho da mãe. Não mudo mais por mim, agora eu tento me livrar dos meus defeitos por ele. Vale muito mais a pena.  

novembro 24, 2010

Inconfesso Desejo

Queria ter coragem
Para falar deste segredo
Queria poder declarar ao mundo
Este amor
Não me falta vontade
Não me falta desejo
Você é minha vontade
Meu maior desejo
Queria poder gritar
Esta loucura saudável
Que é estar em teus braços
Perdido pelos teus beijos
Sentindo-me louco de desejo
Queria recitar versos
Cantar aos quatros ventos
As palavras que brotam
Você é a inspiração
Minha motivação
Queria falar dos sonhos
Dizer os meus secretos desejos
Que é largar tudo
Para viver com você
Este inconfesso desejo

                                                    Carlos Drummond de Andrade

Chuva


Ah, a chuva!
Hora de água cair

Caem gotas e raios
Parecem cruéis seus estalos
Ventos que arrastam águas que levam
Chuvas em mim

Sob um céu já sem nuvens

novembro 21, 2010

"Tim-Tim"

As taças já estavam vazias. Ninguém me esperou pra brindar. Não deixaram nem uma gotinha! 
“Sacanagem!” – pensei. “O que eu faço com o meu champanhe agora?”
(Da próxima vez, não se esqueçam de mim. Obrigada)

novembro 20, 2010

Adiando

As pessoas, a sala, fazem barulhos, assistem à TV, conversam, interagem. Ela está sozinha. Os barulhos lhe dão dor de cabeça, a TV lhe incomoda, as conversas lhe aborrecem, ela finge que interage. Está sozinha. Não lembra quando falou direito, pela última vez, com pai que tanto ama, com a mãe que tanto imita, com a irmã que tanto admira. Tenta falar algo sobre futebol, porque o pai adora quando ela faz isso, mas logo se arrepende porque o time dele não está muito bem no campeonato. Noites mal dormidas, más notícias na porcaria da televisão, dietas não cumpridas, pés doloridos e cheios de calos, problemas na família, o celular que não presta de jeito nenhum, as tintas e pincéis que ela nunca, nunca mais usou.
A verdade: ela é uma pessoa comum, tão hipócrita quanto qualquer ser humano normal, tão ladra de corações quanto toda mulher razoavelmente bonita e inteligente pode ser, orgulhosa sim, mas nunca deixou de ser generosa, compreensiva. Não tem medo de ninguém, a não ser de Deus, dos pais, daqueles que ama e daqueles que nem conhece. Se assusta ao saber de coisas que já considerava triviais e quase sempre vai muito além do que disse que iria.
Ela sabe que não adianta tentar dormir bem: há semanas vem tendo pesadelos, com a COISA. Não adianta rezar, ler, cobrir-se confortavelmente, encolher-se de frio, nem qualquer tipo estranho de ritual que todo mundo faz antes de dormir. A COISA está ali, em seus pensamentos e não quer deixá-la em paz.
A COISA: Começou há alguns meses. Sabe aquele problema chato, aquele do qual não adianta fugir? Ela está com um desses. Um problemão, coitada. Todo dia, ela tenta pensar numa solução não tão dolorosa e assim vem sendo desde abril, eu acho. Pra você ver como adiar as coisas é sempre um perigo!
Finalmente, uma solução se apresenta. Não era bem o que queria mas, estava fazendo qualquer negócio pra virar essa página da sua vida o quanto antes. O alívio que sentia era quase maior que ela. Que desperdício! Por que não pensou nisso antes? Quantas noites insones, aulas perdidas, confidências inúteis! Pela janela, pôs-se a observar aquela nuvem roxa. Meia hora atrás, ela ainda estava pequenina, insignificante. Como cresceu tanto em tão pouco tempo! Assim era aquele problema. Ela precisava acabar com ele. Aquela nuvem estava escondendo a lua e deixando a noite mais escura... Aquele problema estava lhe tirando o sono e sugando sua alegria...
O PROBLEMA: Realmente tinha muito a ver com aquela nuvem. A diferença é que era muito maior. A nuvem logo transformou-se em chuva e passou. A COISA não faria nada de mal a ela, pelo menos não diretamente. Era com as pessoas que ela se preocupava. E tinha motivo para isso. Ela estava sozinha. E estava com medo.
Em sua cabeceira, um livro lido mais de cinco vezes. Como poderia ler outra coisa, se não conseguia se concentrar em nada. Este lhe ajudava a dormir e, como já tinha lido várias vezes, sabia praticamente todas as falas, de modo que não era uma leitura desperdiçada. De repente, a leitura mecânica, robótica deu lugar a uma leitura sentida, pois as palavras que leu foram tão úteis, tão significativas, tão atuais, tão perfeitas, que pareciam ter aparecido como uma ajuda. Quem foi que disse que os livros não são amigos?
As palavras:
" Hercule Poirot sentia-se morbidamente consciente disso. Sempre fora um homem acostumado a ter uma boa impressão de si mesmo. Afinal ele era, realmente, superior à maioria dos homens em muitas coisas. Naquele momento, porém, sentia-se incapaz de qualquer sentimento de superioridade: era um mortal como qualquer outro, apavorado diante da cadeira do dentista. "
               

novembro 13, 2010

Um Cara Chamado Togui

Conheci um cara chamado Togui. Andando pelas ruas de Belém, sob este sol escaldante de Belém, era um cara diferente desses tipos comuns de Belém. Durante horas, entregamo-nos a conversas intermináveis sobre os bares, as festas, as pessoas, conversas essas regadas a muita cerveja. Tagarelamos tanto que o sol do início da conversa, agora estava se pondo.
Togui era um cara bom de papo, desses que sabem falar coisas sérias sem parecer um chato metido a intelectual, desses que falam besteiras divertidas que toda mulher adora ouvir, uma figura. Usava uma touca de lã azul-clara, o que era muito, muito estranho. Porque ninguém normal usa touca de lã nessa cidade. Então eu, depois de alguns copos, criei coragem e perguntei: “Por que tu ta de touca?”.
“Porque tu ta de calça jeans? Também é roupa de frio. Não combina com Belém.”  E eu tive que admitir a verdade dessa observação. Grande Togui!
Apesar de aparentemente não se importar com a aparência, reparei que sua barba estava feita, e que a pele era bem cuidada. Togui era um cara bonito. Mas seu charme não estava na beleza, e sim na simplicidade. Ele dizia coisas que todo mundo sabe ou diz saber, a diferença era que ele realmente levava tudo o que dizia a sério. Por exemplo, ele parecia mesmo acreditar que as aparências eram detalhes, e que o verdadeiro valor de todos estava no coração. Este, sim, guiava seu caminho. Falava pra mim que nunca sabemos o dia de amanhã e que, por isso, devemos estar destituídos de preconceitos, mediocridades. Falava que devemos nos preocupar não em sermos felizes, mas em fazermos os outros felizes, pois quando fazemos os outros felizes, os outros nos fazem também. Confesso que nisso eu nunca tinha pensado.
Lembra daquela frase já bastante batida por aí, “com as pedras que me jogarem eu construo um castelo”, ou qualquer coisa assim? Togui foi além: “As pedras não são tão importantes, porque são metáforas, Nathália. O que importa é quem ta jogando, porque esses podem te machucar de verdade.” 
Caramba! E eu que achava que tava abafando quando dizia que ia construir um castelo!  
Anoiteceu e tivemos que nos despedir. Preferimos não marcar nada, deixar o acaso se encarregar disso. E foi legal porque, nesse sentido, ele era como eu: gostava de ser livre e qualquer coisa mais previsível que o acaso já não era tão atraente. Se você vir um cara de touca de lã azul clara por aí, com a barba feita e o jeito esquisito, diga que eu lhe mandei um abraço, por favor.

novembro 10, 2010

Adriano

Ele fechou os olhos e afundou a cabeça nas mãos. Chorava como uma criança, soluçava de dar dó. Não via nada, nem ninguém, nem coisa alguma que lhe pudesse servir como razão pra viver. Tudo lhe parecia frio, desbotado, mórbido. O quarto, agora, parecia tão extenso, a cama tão grande, as paredes pareciam grades. Seus pais achavam que ele estava começando a me esquecer, a acordar pro mundo ao seu redor... Pobres coitados! Pobre Adriano! Todos os dias ele pensava em mim. Todos os dias chamava por mim. Todos os dias ele queria morrer.
Às vezes, ele garantia que estava bem, que apenas precisava ficar um pouco sozinho. Essas eram as horas em que ele mais ficava comigo. Conversávamos durante horas, ele me questionava, me culpava por deixá-lo e, ao mesmo tempo, me chamava de volta. Ele me acusava de tê-lo abandonado, às vezes gritava comigo, dizendo que eu não podia ter feito isso. Coitada de mim. Tentava lhe explicar, mas não tinha como me defender. Ele me imaginava vendo a novela, deitada na cama. Ou então me imaginava sentada, falando sem parar sobre qualquer coisa insignificante que, pra ele, sempre foi tão importante quanto qualquer necessidade básica. Adriano é assim: tudo o que me diz respeito importa pra ele, tudo o que eu faço, falo, leio é bonito, único. Quantas noites passei naquele quarto? Quantas vezes me deitei naquela cama? Quantas vezes nos amamos até de manhã? Naquele tempo, me lembro muito bem, aquela cama de casal era pequena pra nós dois...
Meu Deus, quanta saudade, quanta dor, quantas lágrimas! Olhando pela janela, ele viu que o dia lá fora estava lindo. Resoveu ir à praia. Isso era uma espécie de ritual nosso: Nos finais de semana, íamos sentar de frente pro mar, à sombra de um guardassol. Eu quase sempre ia para a água, enquanto que ele ficava sentado, me olhando. Quando eu voltava, começávamos a falar e comer besteiras. Eu o chamava de amor e ele me chamava de sereia. Por isso, um dia, quando o vi entrando no mar com aquele olhar estranho, não entendi de imediato suas intenções. Meu Adriano queria morrer, porque achou que o mar tinha me roubado, de alguma forma. Em seus delírios, ele me via morando lá, entre peixes e corais. Graças a uma senhora, que percebeu o que estava acontecendo e chamou um salva-vidas, Adriano não conseguiu o que queria.
Desde então, ele já não tinha vontade de fazer mais nada. Perambulava pelas ruas, com a certeza de que tinha morrido e algum anjo ou demônio tinha esquecido de removê-lo da Terra. O andar sempre negligente, a cabeça sempre baixa, o olhar sempre no chão... Era tão bonito, com aqueles olhos castanhos tão intensos, aquele sorriso ofuscante... quando vestia vermelho, era o mais maravilhoso dos homens. Posso imaginar o vazio que ele sente, a revolta em seu peito. Eu contribuí para isso.
Outro dia, na praia, toquei seu rosto, afaguei seus cabelos. "Não posso, Adriano! Te amar, sentar ao teu lado, segurar tua mão. Não posso! Estou morta. Estou morta, Adriano! Já faz um ano desde aquela nossa última tarde, no hospital. Eu morri, mas você não, meu amor. Você continua vivo. Agradeça por isso. Vou sempre lembrar de como imploravas que eu me casasse contigo, de como me pedias pra controlar meus ciúmes infundados, de como me pedias um strip-tease. Ah, como eu queria poder fazer tudo isso agora. Mas eu não posso. Não ousa repetir aquela tua idéia maluca de acabar com a tua vida. Eu morreria  de novo se algo de ruim te acontecesse. Não posso te ter, e é assim que tem que ser. Não posso te ter! Nem eu, nem o mar."
Acho que, de alguma maneira, ele me ouviu. Quando se levantou pra voltar pra casa, um sorriso involuntário escapou daqueles lábios que eu tanto queria beijar, mas não podia. Era o primeiro em um ano. O que me fez pensar que meu Adriano poderia, enfim, estar conformado. Eu sabia que ele pensaria em mim por um bom tempo ainda, mas também sabia que um dia eu seria apenas uma lembrança. Rezei para que ele nunca me esquecesse. E me despedi pra sempre. 

novembro 09, 2010

Poesia

Gastei uma hora pensando em um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.


Carlos Drummond de Andrade

novembro 03, 2010

Eu Quero!



"Mathew me levou, então, em uma visita guiada pela casa – o ostensivo saguão de entrada com o gongo chinês (“O Espelho do Morto”), o baú com fecho de bronze (“O Mistério do Baú Espanhol”) e os impressionantes retratos de família (O Natal de Poirot); uma despretensiosa coleção de equipamentos de esporte no canto sob a escada tinha, imagino, um taco de golfe para canhotos (“Assassinato no Beco”) algumas raquetes de tênis (Hora Zero ou, menos morbidamente, Um Gato entre os Pombos) e um inocente bastão de críquete. Na sala de estar havia um grande piano (Um Passe de Mágica) e uma porta que se recusava a ficar aberta se não estivesse presa por um calço (Convite para um Homicídio); na mesinha de porcelana repousava o conjunto de imagens de Arlequim que inspiraram O Misterioso Mr. Quin. A janela por trás do piano foi de onde Hercule Poirot desceu lentamente após o chá da tarde em A Extravagância do Morto.
No andar de cima, depois de subir por uma tortuosa escada de madeira, estavam os banheiros ainda com os nomes das crianças refugiadas (Punição para a Inocência) da Segunda Guerra Mundial, escritos em etiquetas coladas nas prateleiras, enquanto a estante tinha os exemplares autografados de alguns amigos e autores da época (“Para Agatha, com emoção – Ngaio Marsh”)." 

                                   Trecho da Introdução de "Os Diários Secretos de Agatha Christie"

novembro 02, 2010

Romance Invisível

Bruna despertou ainda estava escuro. Ou melhor, a escuridão já começava a dar passagem à luz fraca do amanhecer, e o céu apresentava aquela cor fria e azul-cinzenta que todo fim de madrugada tem. Tudo parecia congelado.
Sentou-se. Como se estivesse proibida de fazer qualquer movimento brusco, libertou-se dos lençóis calma e suavemente, como quem se banha pra lavar muito mais que o corpo, pra lavar a alma. Como quem luta, não com o mundo inteiro, mas consigo mesmo. Aqueles lençóis a protegiam do vento gelado, mas agarravam todo um passado ao seu corpo. Um passado que deveria estar passado, um passado que, agora, se fazia presente bem ao seu lado, depois de uma louca noite de amor.
Deixou seu corpo nu exposto ao frio, então. Pensou naqueles dias todos em que ficaram sem se ver, no tempo em que ela acreditava ter conseguido matá-lo dentro do peito. Ficou ali, estática, olhando pra ele, ocupando a mente sempre tão inquieta com por quês e arrependimentos. A noite foi boa, mas chegou ao fim. Junto com o sol da manhã, viriam as despedidas: palavras sem sentimento, cheias de dó, humilhação...
Do mesmo jeito calmo e suave que seus braços disseram aos lençóis, ela disse para ele, em sono profundo:

- Não vou me prender de novo às suas vontades. Dentro de mim, há milhares de lugares que você nunca chegou. Sequer enxergou. Meu corpo foi desbravado, mas nunca libertado. Minhas mãos sempre te acariciaram e dos meus lábios recebeste os mais apaixonados beijos. Tuas mãos me tiraram muitas coisas, e me causaram grande sofrimento. Teus beijos eram insípidos, assim como o teu coração. Quando eu te perdia, me humilhava e te perseguia até voltares pra mim. Já eu, não podia ir embora, que você não fazia o menor esforço pra me trazer de volta. Não quero mais o teu amor, porque me incendiaste hoje, mas amanhã me virarás as costas. Fingirás que não me vês.

Ainda calmamente, assim que amanheceu ela se vestiu, despediu-se e voltou pra casa. Quando ele acordou, não havia nada no quarto além da TV ligada. Meio tonto, percebe que a televisão não deveria estar ligada. Procurou pelo controle, mas seria mais fácil levantar-se e desligar a tv do que encontrá-lo em meio àquela montanha de lençóis que parecia ocupar o quarto inteiro. Onde estaria Bruna? E então, nesse momento, ele reparou no pedaço de papel preso bem embaixo da televisão.

"Por muito tempo, eu não existi pra você. Mas eu sou de verdade. Hoje, porém, é você quem não existe na minha vida. Não me culpe, não me chame de vingativa. Você não sentirá nada, eu sei. És imune ao meu amor, sempre foste. Fui tantas vezes tratada como invisível, que acabei acreditando ser. Ontem foi um sonho. Você acordou. Acabou."

E ela, sendo invisível, desapareceu.
E ele, sendo imune, nada sentiu.

outubro 31, 2010

Virou Nada

A razão de tudo está no teu costume irritante de se negar a tudo. Te negaste a me falar a verdade, negaste a ti mesmo o prazer de se abrir com alguém que realmente se importa contigo. Como se o meu ombro fosse pouco pros teus desabafos, e o meu interesse fosse apenas uma curiosidade urgente de te decifrar. Eu queria trocar experiências, impressões ou simplesmente te ouvir. Não me deste atenção. Já eu não nego que sempre quis te decifrar, desvendar teus mistérios encantadores, não nego que é só me pedires qualquer coisa, e terás qualquer coisa. Assim como não nego minha raiva, quando te fechas como uma ostra.
Ainda desejo saber como foi aquela festa, como foram aqueles dias em Fortaleza, quais são teus comentários quando te indagam sobre mim. Mais que isso: ainda quero saber qual o motivo pra essa expressão tensa e carregada que vejo estampada no teu rosto, mesmo de longe. Ainda quero ouvir tuas verdades, ainda quero que procures meu ombro.
Já te contei que os passarinhos voltaram a visitar minha cozinha? Aliás, já te contei que tô fazendo um curso de gastronomia e culinária pela internet? Às vezes eu me escondo de ti, quando te vejo passando em frente à minha sala, na Federal... Ainda acho que a Universidade tem cheiro de chuva, como sempre te falei. Me escondo porque é mais fácil me esconder que te encontrar e não querer te contar mais coisas. E não posso te contar mais nada, porque cansei de dar, preciso receber também. Falar cansa, ouvir alivia. Preciso saber teus medos, ver que és humano, frágil, dependente de amor tanto quanto eu. Pro inferno com teus mistérios e tuas negações! Pro inferno esse teu rosto sisudo! Fica com eles e me deixa em paz, não me deixa te contar mais nada. Vou pegar meu ônibus e tentar não pensar mais em ti, te transformar em nada, porque tu nunca pensaste em como eu quis (e como quis, meu Deus!) te entender.

outubro 29, 2010

I Miss You

(...)
You do something to me that I can´t explain.
so would I be out of line if I said,
I miss you

I see your picture,
I smell your skin on the empty pillow, next to mine.
You have only been gone ten days,
but already I´m wasting away.

I know I´ll see you again
whether far or soon.

But I need you to know that I care.
and,
I MISS YOU.
                                                                             Incubus

outubro 28, 2010

O Bom da Vida

Acho admirável o dom que certas pessoas têm de se entregar, de se doar com honestidade à vida. Digo isso porque temos mania de criar prioridades, compromissos e acabamos esquecendo que o nosso primeiro compromisso deve ser sempre aquele com nós mesmos. Talvez essas pessoas sejam as que mais sofrem e mais levam tapas, mesmo assim, acho lindo quem mergulha sem medo naquilo que acredita.
Mais importante que o que você tem na vida, é quem você tem na vida, alguém já disse. Admiro quem entende que as pessoas são diferentes por natureza, e que podem ser tão parecidas ao mesmo tempo. Admiro quem sabe fazer uma bela amizade respeitando o espaço do outro, e quem sabe fazer de um sentimento como o ciúme algo como cuidado, dedicação. Admiro gente do bem, que faz o bem e que quer o bem. Tenho pessoas tão frias quanto gelo e outras tão calorosas quanto fogo, e quando se misturam isso não quer dizer que uma derreta a outra. Tenho pessoas tão impulsivas que te conhecem e te contam a própria vida em cinco minutos e tenho pessoas que se fecham por anos, e quando se abrem geralmente não falam de si. Mas isso não quer dizer que uma não tenha paciência com a outra.  Já tive paixões que deixaram muita saudade e amores intermináveis que, um dia, terminaram em nada.
O bom de viver é entender que tudo passa e o tempo não volta. Se as coisas acontecem da maneira que queremos ou não, o importante é que tenhamos pessoas amigas, verdadeiras e que nos ensinem a viver melhor sempre. Aprendo muito em conversas inúteis, textos bobos e músicas bregas. Assim são as pessoas: não as subestime. Todos podem te ensinar, acredite. Entregue-se às suas vontades, urgências, desejos. Não seja desleal com ninguém, mas acima de tudo não seja com você.
O bom de sentir é entender que alguém ou alguma coisa conseguiu algo de você, e que você está entregue a isso. O bom de viver é saber que tudo tem um fim, e que antes que o nosso fim chegue, podemos terminar várias vezes qualquer coisa e começar outra, pra nos entregarmos outra vez, de corpo e alma.  

outubro 26, 2010

Estradas Vazias

Como sou feliz, eu quero ver feliz quem andar comigo... Vem?


Ontem

Caminhei por uma trilha comprida e solitária, já que o vento não era ninguém e, ainda assim, era o único a me fazer companhia. Até que parei. À minha frente, a trilha estreita se bifurcava. Como se fizesse parte do meu corpo, meu companheiro puxou-me para um dos lados. Não hesitei. Me entreguei à sua vontade sem olhar para o que havia ficado pra trás, pois não havia beleza nenhuma ali. Meu novo caminho era frio, e esse frio me entranhava o corpo todo. Doíam minhas costelas, tremiam meus braços e pernas e mãos e pés.

Hoje

Continuo percorrendo meu caminho solitário. Hoje eu vejo carros, luzes, pessoas, mas me sinto tão só quanto ontem. Quando chove, a sensação dentro de mim é um vulcão. Um vulcão em fase pré-erupção. Querendo queimar com seu rio de fogo tudo que há pela frente. Mas a estrada é vazia. Não há nada mais desconcertante que ser contraditória. Nada mais humano que se sentir um a mais no meio de tantos.

Sempre

O vento me empurra, bate, me joga. A chuva me queima, corta, rasga. Quantos caminhos ainda me restam? Sou rio, sou vulcão. Sou só, sou multidão.

outubro 23, 2010

Cor de Casca de Batata

Às vezes me bate uma vontade doida de ser qualquer coisa que não o apropriado, o esperado. Uma vontade imensa de ser diferente. Não sou falsa, dissimulada, nem coisa pior, mas o que posso fazer se gosto de dar uma de personagem? O que posso fazer se há uma vontade imperiosa dentro de mim de ser narradora? Eu gosto de histórias, e gosto de contá-las. Às vezes apenas contar me basta. Às vezes, não. Eu tenho que participar, de algum jeito. Coitado daquele que não se entrega nem por um momento ao mundo da própria imaginação! Há coisa melhor que transformar o cotidiano banal e repetitivo de sempre em literatura? 
Sendo assim, vou agora escrever o pensamento literário que me ocorreu esta noite. Desde já, quero dizer-lhe que não terá a história completa, mesmo que eu quisesse (e eu não quero), não teria como contá-la por inteiro. Faltam-me palavras. Também devo adverti-lo do caráter pessoal e íntimo que lhe reveste. Com certeza, é mais relevante para mim do que para você, e eu não vou tentar disfarçar isso. Então, se você se sentir perdido, tudo bem. Só estou escrevendo mesmo porque eu não quero me perder. Sinto muito por você. Azar o seu de não ter vivido o que eu vivi, de não ter sido o que eu fui, e agora terá que se contentar com as descrições toscas que passam pela minha memória e saem dos meus dedos para o teclado. Azar o seu de viver de realidade. O que tenho a contar é o seguinte:
O céu, negro. Uma noite sem estrelas. Uma noite fria. Uma chuva fina. Ela, sozinha como a lua no céu. Já nem sabia porque estava ali, mas estava.  Chorar é um verbo muito forte pra definir a ação a que ela se entregava. Talvez não haja um verbo pra definir esta ação, mas podemos dizer que gotículas de lágrimas em dúvida brilhavam no seus olhos. Algumas decidiam-se por cair e manchar-lhe o rosto, outras resolviam transformar-se em qualquer outra coisa e apenas emprestavam seu brilho molhado ao olhar cansado. Entre ela e a chuva já não existia espaço algum, diferença nenhuma. Ambas resignavam-se e partilhavam da mesma sensação: a obrigatoriedade. Por que ela chorava? Porque tinha que chorar, ela sabia disso. Assim como a chuva sabia que deveria chover, pois era da natureza que ela caísse e a natureza é sempre obrigatória. Será que aquela folha caída há pouco era uma lágrima da árvore ao lado? Estranho esse negócio do mundo chorar com a gente! Olhando bem, a única coisa contrastante, alegre e quente, era o poste na frente da casa. Estranho esse negócio de “cor”... Nesse momento, a luz do poste não era amarela, nem branca, nem nada que lembrasse luz. Era pálida. Tinha cor de casca de batata.
A mulher, silenciosa, contemplava a chuva e esperava o amanhecer. E, no silêncio, no frio e na tristeza de uma madrugada insone, a mulher entendeu quem é. Ela sou eu tentando ser outra. Riu de mim com quem ri de uma criança tola, que não entende sua razão de ser. Eu não sei o que ela pensa, gasto palavras sem o menor remorso, enquanto que ela é silenciosa e misteriosa. Ela existe porque eu não me basto. Em minha defesa, argumento que não sou a única. Quem não quer ou nunca quis ser diferente? Você já quis? Tenho certeza que sim. Vai, assume. Ria de você mesmo. Não tem ninguém olhando. Esqueça que você é bicho social. Seja bicho natural mesmo. Siga uma vez o instinto. Deixe a sua natureza comandar você. Se os outros não te entenderem, finja que você é um poema. Ninguém vai precisar te entender pra ver que há poesia aí dentro.
Dúvidas, dúvidas, dúvidas e mais dúvidas. Essas dúvidas ainda me matam. Qual das duas sou eu agora? Melhor não saber. Que diferença faz? Eu sou muitas. E às vezes não chego a ser o suficiente pra uma só. Talvez as dúvidas, os problemas se resolverão se eu ficar calada. Talvez se resolverão se eu desabafar, “botar pra fora”. Se você é meu amigo, não me cobre explicações. A única que eu posso dar é que eu estou a um passo da loucura. Uma loucura gostosa, uma doidice sã. Gosto de ser eu mesma, e às vezes gostaria de ser outra, por cinco minutos ou mais, tanto faz. Não me invada o coração com fatos, ciências exatas, soluções lógicas. Eu gosto do improvável e sempre namorei o impossível. Eu gosto das cores alegres, mas sempre namorei o escuro, mesmo tendo medo dele. Mesmo gostando do rosa-bebê, o vermelho-sangue me atrai.
Pobres almas solitárias! Eu sou eu e eu sou muitas. Nunca estou sozinha. Vejo beleza onde não há, poesia onde ninguém vê e me permito experimentar de tudo. Me despeço com uma vírgula, mas o texto não vai continuar, pelo menos não aqui. A vírgula é uma homenagem minha à minha companheira de ontem, pra que ela continue escrevendo o resto em mim. Sim, porque eu sou um papel. Posso ser um papel amassado, rasgado, riscado, mas sou um papel. O que tem dentro de mim que me mancha, me rabisca. Como narradora que gosto de ser, também cabe a mim o papel de escolher o que eu mostro. Se você não gostar, vire a página, me dê uma segunda chance. Eu sou infinita.

outubro 15, 2010

Saber Amar

Não quero ser sem saber
Pois sei que amo sem querer
E hei de amar sem por quê
Será o que transcender
Que será tanto amor
E tanto querer

outubro 14, 2010

Amor, Amor e Amor

Chegou a hora de escrever sobre “O Amor Natural”. Primeira coisa sobre ele: é o livro mais inquietante de Carlos Drummond de Andrade. Publicado após a morte do poeta, mostra toda a linguagem erótica e quase pornográfica de Drummond. Chocou e, incrivelmente, choca ainda hoje a sociedade. O que muitos conservadores vêem como pornografia ou obscenidade, eu vejo como arte. Acho fantástica a poesia insinuante e ao mesmo tempo nua do livro. Mas, por outro lado, entendo que pra quem esteja acostumado com os grandes questionamentos e reflexões que outros poemas de Drummond nos trazem, realmente seja difícil não se surpreender com esta outra faceta pouco conhecida do poeta.
Em “O Amor Natural”, a sexualidade está presente em cada poema, assim como os desejos, as fantasias, o corpo, o amor e, obviamente, a poesia. O bacana mesmo é observar o ritmo que cada poema tem, alguns são rápidos, corridos, afobados, quase sem pausa, parecem amantes sem fôlego. Outros, ao contrário, são lentos e sem pressa alguma, coisa que só quem ama entende. Como se cada segundo de leitura fosse um segundo a mais ao lado do seu amor. Como se cada parte da pessoa que você ama pudesse ser lida, sem pressa, sem agonia nenhuma. As metáforas são bonitas: membros são comparados a conchas, jardins, flores. O livro é, provavelmente, um relato completo dos caminhos do amor. Ou você se identifica ou gostaria de se identificar, de sentir, de viver uma ou outra história. Particularmente, confesso que invejo o desprendimento de escrever poesia sobre sexo. Por razões pessoais, religiosas e até ridículas, não tenho condições de fazê-lo. Dificilmente obras assim me atraem, só mesmo Drummond e alguns poucos autores conseguiram me fazer ver poesia em algo tão humano. Não que a poesia não seja humana, mas isso é outra coisa. Depois de ler “O Amor Natural”, entendi que o amor é mesmo, no fundo, natural. Que acontece não se sabe por quê, e acaba tão inesperadamente quanto começou. Sexo é só uma maneira de fazer amor. A mais natural de todas, é claro.

outubro 13, 2010

Dis para



Essa é a melhor hora do meu dia, aquela em que sinto uma fominha que vem desde o longínquo jantar que já até esqueci o que era. Meus olhos ainda estão pesados de sono, mas na verdade estou mais atenta do que nunca. De fato, eu sou assim: no início do dia, apesar de estar com os olhos pesados, com as pernas doloridas de tanto treinar grand battement, é quando me encontro em melhor disposição. Essa é a melhor hora do meu dia simplesmente porque o meu dia está começando.
De tanto ficar sentada, aqui, na frente do computador, lendo os blogs alheios, pensando na aula que eu vou dar daqui a pouco, tentado lembrar de qualquer coisa de morphosyntaxe du français, ou de qualquer coisa de responsabilidade civil, pensando que vou passar mais uma tarde inteira fazendo passé, plié, e grand battement, pensando em como a vida é boa, alegre... Chega! Antes que eu me perca por aqui.
Movida a muita cafeína, amaldiçoei o maldito tempo, que dispara ferozmente para todos que precisam do seu corpo para serem artistas. Quem dera bailarinos fossem ficando melhores com o passar dos anos! Quanta injustiça! Quantos médicos, professores, compositores, empresários, escritores e etc não realizaram seus maiores feitos na carreira depois dos 45? Às vezes esqueço que um dia a hora de pendurar as sapatilhas definitivamente vai chegar. Ah, eu não tenho que pensar nisso agora. Ainda tenho 21 anos, ainda dá pra dançar muito balé, graças a Deus.
Quando meu tempo de bailarina chegar ao fim, não negarei as lembranças, apoios, felicidades e até os tapas que eu já levei. Vou sentir falta das dores nos pés, nas costas, dos tombos. Mas agradeço desde já, por cada dia que eu vivo dessa arte que me constrói. Sim, porque o balé me construiu, ao longo desses anos, bailarina. E como toda bailarina que se preze, aposentada ou não, o amor que eu trago no peito pela minha arte é único e máximo, por mais que o tempo seja cruel, certas coisas não se perdem jamais. E deixe-me ir que o meu dia está só começando.    

outubro 11, 2010

Antônio e Cleópatra

Antônio e Cleópatra (Antony and Cleopatra, no original em inglês) é uma peça de William Shakespeare. Dividida em cinco atos, que são recheados de intrigas políticas misturadas a calorosas declarações de amor, a peça nos proporciona um encontro com toda a linguagem monumental deste genial dramaturgo inglês.
Em sua fase plena e madura, Shakespeare constrói esta tragédia que tem como tema o romance entre o romano Marco Antônio e Cleópatra, a rainha egípcia. Dois personagens marcantes, impetuosos e apaixonados que emocionam em todos os momentos desta que é uma das mais envolventes obras históricas de Shakespeare.
Com amigos da corte, os dois amantes fundaram aquela que seria sua primeira sociedade: “A Vida Inimitável”. A idéia era muito simples: cada um teria de surpreender os demais com prazeres inéditos. Foram dias e dias de delícias até que dois mensageiros de Roma trouxeram Marco Antônio à realidade, com a notícia da invasão de Otávio na Ásia Menor, Síria e Judéia. Marco Antônio, então, voltou à Itália e fez um acordo com Otávio. Para selar a reconciliação, casou-se com Otávia, irmã de Otávio. 
Cleópatra, em Alexandria, teve seus dois filhos gêmeos: Alexandre Hélios e Cleópatra Selene. Durante três anos, não viu Marco Antônio. Entretanto, depois deste tempo, o encontro foi dos mais apaixonados. Ao mesmo tempo em que Cleópatra pretendia conquistar de uma vez o amante para garantir a grandeza de seu reino, Marco Antônio precisava dela para dominar o Oriente e vencer Otávio. Reencontraram aquela vida inimitável dos tempos passados.

Os dois resolveram casar-se segundo a norma egípcia, que permitia a poligamia. A imagem de Marco Antônio is se degradando pouco a pouco, junto à opinião pública romana. Otávia, fiel esposa, ainda ajudava Marco de todas as maneiras cabíveis. De maneira que Cleópatra entregou-se a um teatro dramático. Já não comia, demonstrava sua aflição e ciúmes controlada e calculadamente, derramava-se em lágrimas. Marco Antônio, convencido pelo espetáculo de Cleópatra e, dando ouvidos aos cortesãos, que diziam-lhe: “Como podes deixar definhar uma pobre mulher que só respira por ti? Podes comparar uma esposa que uniu-se a ti por razões políticas e a soberana de um tão grande reino que, separada de ti, não poderá mais sobreviver?", decidiu-se por Cleópatra.
Com sua atitude, Marco Antônio rompeu os frágeis laços que ainda o uniam a Roma. Depois de um longo e decisivo combate, os navios de Otávio derrotaram os de Cleópatra e Marco Antônio. O casal fugiu, mesmo que sem rumo, pelas ruas de Alexandria. Sabiam que os dias de liberdade estavam contados, mas ainda assim entregaram-se a mais prazeres extravagantes. Com amigos, fundaram uma nova sociedade, "A Espera da Morte em Comum", e passavam o tempo como se cada noite fosse a última.
Um dia, pela manhã, Cleópatra trancou-se com duas de suas amas no mausoléu. Deu ordens para que trancassem a porta e dissessem a Marco Antônio que se matara. Este, por sua vez, entendeu que também devia morrer. Atingiu o próprio ventre, mas não faleceu de imediato. Neste instante, chegou o secretário de Cleópatra anunciando que ela continuava viva. Marco Antônio, morimbundo, pediu para ser levado ao mausoléu. “Pela janela, desceu uma corda à qual amarramos Marco Antônio. As três mulheres, puxando a corda com as mãos, alçaram com muita dificuldade nosso general agonizante e coberto de sangue.", contou um servo.
 Cleópatra recebeu-o e, rasgando suas próprias roupas, arranhando seus próprios peito e face, abraçou o moribundo chamando-o de seu senhor, seu esposo e seu imperador. Marco Antônio pediu uma taça de vinho, bebeu e, num último suspiro, aconselhou a Cleópatra que salvasse sua vida se pudesse fazê-lo de maneira honrada.
Pálida, magra e ferida, a rainha do Egito não era mais a sombra do que fora um dia, quando Otávio decidiu visitá-la. Uma última vez, Cleópatra tentou seduzir um general romano. Em vão. Informada de que preparavam o navio que devia conduzi-la a Roma com os filhos, pediu para voltar ao mausoléu. Trouxeram-lhe uma refeição suntuosa e depois ela trancou-se com as duas amas. Numa mensagem, pediu a Otávio para ser enterrada junto com Marco Antônio. Compreendendo o que se passara, Otávio enviou a guarda em toda diligência. Tarde demais: Cleópatra estava morta.
"Eu sabia", confiou o médico de Cleópatra, "que já há várias semanas nossa rainha decidira morrer. Em minha presença, testou, nos condenados à morte, várias espécies de veneno. Queria encontrar aquele capaz de provocar uma morte rápida, suave e sem alteração do corpo. Não pude determinar a causa do falecimento das três mulheres, mas vi no braço de Cleópatra duas pequenas picadas. Sabia que a rainha sempre levava no cabelo um alfinete contendo veneno. Pensei também na mordida de uma víbora. Com efeito, um guarda me contou que, durante a refeição, um camponês veio trazer à rainha uma cesta de figos que podiam, talvez, ocultar uma serpente. Mas eu não encontrei nesse local hermeticamente fechado nem alfinete de cabelo nem víbora alguma".
Cleópatra tinha 39 anos quando escolheu ir ao encontro do amado e da morte. Comovido por sua fidelidade, Otávio autorizou seu enterro junto a Marco Antônio no mausoléu real. Uma só sepultura reuniu para a eternidade esses dois terríveis amantes, cujo romance transformou o curso da história do mundo romano.


outubro 05, 2010

Renoir

(Coucher de Soleil à La Mer, de Renoir)

Pierre Auguste Renoir (1841-1919) é um dos mais fantásticos pintores franceses. Chegou a pertencer à escola impressionista, mas se afastou rapidamente, por causa de seu interesse pela pintura de corpos femininos sobre paisagens. Falando em paisagens, esta aí em cima é minha favorita, se é que é possível escolher uma entre todas as célebres obras deste artista. Renoir tem como grande característica abordar a vida social urbana, o que também fascina seus admiradores mundo afora. Resolvi escrever sobre ele porque era uma coisa que eu ainda não tinha trazido pra cá: minha paixão, há muito esquecida e deixada de lado, pelas artes plásticas. Espero que gostem!  

setembro 30, 2010

Cor ação

Quando me beijares, amolece teu coração. Me deixa entrar na tua vida, lembra de mim. Vem pra mim.

setembro 28, 2010

A Foto

Ele estava usando aquela camisa marrom que eu dei em seu último aniversário. De algum modo, sei que foi deliberadamente pra me atingir, pra me remeter àqueles anos em que eu poderia morrer se não o visse. E aquele boné horroroso que eu tanto odiava também estava ali pra me atacar, como quem diz: “Não adianta, nosso caso (dele com o seu dono, é claro) é eterno.” Eu odiava aquele boné porque ele me impedia de olhar nos olhos dele, e escondia o sinal de nascença em forma de flor, ironicamente afeminado pra alguém tão machão e tosco. Eu poderia jurar que aquele velho ar de deboche permanecia no sorriso amarelo que ele me deu, meio que pra se desculpar pelo atraso, meio que pra me seduzir, mas seu charme já não surtia tanto efeito.
“Estou cansado”, ele disse. “Vamos sentar”.
Mas eu ainda estava ali, olhando e pensando como, no fundo, o tempo não havia dissolvido nada. Minha memória foi puxando, um a um, todos os ecos do passado que ainda rondavam nós dois. Dissolvi num instante quaisquer expectativas que pudesse ter, e de repente me vi dizendo: “Estou bem de pé.” Ele, é claro, levantou-se irritado, porque eu sempre fazia o que ele queria; como ousava me rebelar agora? Não passou pela sua cabeça sempre tão egoísta que eu só fazia isso porque o amava e agora... Bem, as coisas eram, pelo menos, um pouco diferentes.
“E aí– ele começou – vais me desculpar ou não?” Com um olhar pedante e forçosamente subordinado, foi tudo o que ele conseguiu dizer. Um sorriso quase me escapa dos lábios, era tão fácil pedir desculpas que eu quase ri daquela tentativa débil que praticamente exigia desculpas. Quase ri porque essa mesma tentativa funcionou várias vezes e por mais que eu dissesse que agora, as coisas eram diferentes, ele insistia na tática de antes. Quase ri daquela teimosia inútil dele! Quase. Foi por pouco. Mas eu não ri. Em vez disso, tentei me concentrar em tudo o que tinha pra dizer. Olhei várias vezes pros lados, como que à procura de alguma coisa que me fizesse ganhar tempo. Disse apenas “Estás desculpado.”
Eu dissera apenas isto, mas ele entendeu (ou quis entender) muito mais. Como se eu tivesse dito que queria tê-lo novamente, abriu os braços e procurou minha boca. Afastei-me depressa, com um ar reticente, que eu esperava que o dissesse que aquela conversa terminava ali. Com uma naturalidade forçada, ele deu de ombros, como quem pouco se importa, mas como quem percebe, afinal de contas, que o jogo não está ganho. Tentou, então, mudar pra um assunto mais leve. “Já falaste com a Karla?” Balancei a cabeça. Ele sabia que não, que eu nem sabia onde a minha amiga estava. “Ela perguntou por ti. Ta lá atrás.” Dei as costas e fui dar um abraço na Karla, dar um oi, acima de tudo porque fiquei maravilhada em ter outra coisa pra fazer que não insistir naquela conversa dolorida. “Eu vou lá falar com ela, então. Falo contigo mais tarde.”
A verdade era que eu não queria mais falar com ele. Nem agora, nem mais tarde. Tenho certeza que ele percebeu o indisfarçável alívio na minha voz. Fiz de conta que não vi e saí. Tentou várias vezes me chamar, mas eu estava conversando animadamente, tive uma oportunidade de adiar aquele diálogo e me agarrei a ela. Como se percebesse isso, ele entrou na casa e, quando voltou, trazia um pedaço do meu passado na mão. Colocou-o na minha frente e disse: “Por favor.”
Involuntariamente fui tomada por aquela paralisia ridícula que eu sentia quando lembrava de como éramos felizes. Peguei o porta-retrato e olhei pra imagem à minha frente: Um casal apaixonado dentro do carro, sorrindo para a câmera. Tenho quase certeza que a Karlinha que bateu essa foto, num daqueles dias em que ele me ensinava a dirigir. Nunca me livraria dele completamente, é fato. Não percebi como as coisas aconteceram exatamente, eu nunca quis fazer aquilo. Sem querer, o porta-retrato despencou dos meus dedos, frios e duros e foi parar no chão. O vidro quebrado reluzia aos nossos pés e, para os poucos amigos que estavam ali por perto, pareceu que foi de propósito. Mas eu nunca faria isso com o nosso amor, mesmo se deixasse de ser amor.
Sorri, a despeito dos olhares de acusação, mas não pude encará-lo. Ele estava pasmado. Desejei, com toda a minha força, não ter feito aquilo. Mas não pude, obviamente, voltar atrás. Tive que encará-lo, então. Naqueles olhos que me eram sempre tão confiantes, vi pela primeira ou segunda vez o brilho de lágrimas. Meus olhos também molharam meu rosto e afinal me enfureci. Será que ele me achava tão infantil pra acreditar que eu quebraria um porta-retrato, aquele porta-retrato, sem remorso nenhum? Bem, se ele me achava infantil, ia ter um motivo para isso. Bati a porta atrás de mim, com bastante barulho porque queria chamar atenção. Queria fugir daqueles cacos reluzentes que me fitavam da lajota, me enchendo de culpa. Queria que ele corresse ao meu encontro me pedindo ou me exigindo desculpas.
Teimoso, como sempre, ele não foi. Fingiu não perceber o que eu queria. Tratou-me com desprezo total. Pensei ter ouvido o som da nossa foto sendo rasgada ao meio, imaginei inúmeras cenas dramáticas em um só minuto. Tolice. Não seria tudo mais fácil se eu fosse lá e dissesse que não fiz por mal? Nunca pensei que terminaríamos desse jeito, mas assim foi. Abri a porta pra sair, mas ele entrou. Eu sabia que ele já queria esse término há algum tempo, mesmo que fingisse que não. Por muito tempo, eu sorri, quando por dentro tinha raiva. Eu era tolerante quando, no fundo, o achava ridículo.
Contrariando tudo isso, ele me abraçou e disse que entendia, que o nosso amor tinha se transformado em outra coisa. Falou até que eu era importante pra ele! Eu retribuí os carinhos e, pela primeira vez, nós nos entendemos perfeitamente. Eu pedi desculpas e ele reconheceu que eu tinha direito a errar também, depois de tanto tempo me fazendo de perfeita. Sorrimos. Então, agora, estava tudo em paz. Não haveria mais brigas, cenas, choros. Mas antes tinha a foto. Tomei coragem e voltei para juntar os cacos. Percebi que ele veio junto. Estranho, mas o casal da foto olhava pra gente sem entender. O que será que aconteceu com nós dois? O que aconteceu com eles? O porta-retrato se quebrou em cacos. Tal qual nosso amor.

Levantou-se

Deitada na cama, alheia ao calor que a fazia suar e fingindo que estava pouco se importando com a maldita falta de energia elétrica pela terceira vez consecutiva em uma só semana, pôs-se a pensar na incrível cena que se configurava ao seu redor, ou melhor, no incrível rumo que as coisas e as pessoas, em sua vida, estavam tomando. Mas estava feliz, porque gostava de confusão, porque era confusão. Porque durante muito tempo o que era certo a agradava, mas agora já não sentia o mesmo. De repente, mudou de posição. Sentou-se. Mas continuou pensando naquele mundo insólito que a cercava. Viu-se, pela primeira vez, como alguém que não apenas espera, mas age. Alguém que não apenas confia, testa. Alguém que não apenas quer ser feliz, mas quer ser compreendida. Levantou-se, afinal, quem senta é porque espera alguma coisa e ela não queria mais saber de esperar. Andou de um lado para o outro, com uma inquietação que lhe era tão incomum quanto esperada, pois agora ela estava se vendo como narradora-personagem, e deveria agir como tal. Quem sabe assim conseguiria tudo o que sempre quis.

setembro 26, 2010

Agonia

Não faz muito tempo reparei que entro aqui sem nem saber o porquê de estar entrando e acabo a postagem sabendo menos ainda. Mesmo tendo abordado qualquer coisa que, com toda certeza, seja um pouco de mim. Acho mesmo que o que importa é nunca perder esse estalo, esse impulso de escrever algo que faz parte da minha natureza, daquilo de que sou feita. Ah, e quando esse estalo fica um tempo sem aparecer, que agonia que é! Tudo bem que posso simplesmente pegar poemas e textos de outros autores e compartilhá-los, posso perfeitamente me reconhecer em obras alheias, mas não criei este blog exclusivamente para expor meus sentimentos idéias. Escrever é ao mesmo tempo, um remédio e uma arma, portanto me sinto completamente desamparada quando fico muito tempo sem esse estalo que tão bem organiza minhas palavras antes mesmo de meus pensamentos. Queria escrever um milhão de sentimentos meus, um "mix" de saudade, incerteza, amor (como sempre) e surpresa, mas esse estalo de domingo fica por aqui.

setembro 21, 2010

O Poço

"(...)Dá-me amor, me sorri
e me ajuda a ser bom.
Não te firas em mim, seria inútil,
não me firas a mim porque te feres.(...)"

Pablo Neruda

Drummond

Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade.

Sol e Samba

Como te tenho
O quanto me passo
De tanto que espero
Enquanto eu sigo
Labirinto meu
Tu sonhas a força
Tu queres a certeza
Labutas teus sonhos
Alas teus pés
Labirinto teu
Azul é o samba
Dourado é o olhar
Com a perna bamba
Te vejo chegar
Quero te ver passar
Te fazer sonhar
Te fazer me esperar
Enquanto eu sigo
Bonita e tardia
O dourado caminho do teu olhar
A dor da saudade
Levou meu sorriso
Chegou sem aviso
Escurece minha vida
Pra clarear
O dourado do teu olhar
Vem amor
Vem sambar

A Culpa É Sua

O tráfico de drogas escreve a vida e a morte de muitas pessoas. É quase como se os traficantes fossem os produtores, diretores, roteiristas de uma peça; na qual eles decidem prontamente quem vai chegar até o final, quem vai morrer logo no primeiro ato, ou talvez no segundo, tanto faz. Porque, na realidade, é isso o que acontece. E é muito comum ouvirmos lamentações acerca das “vidas inocentes” que o tráfico tirou; é muito comum, e até muito fácil, reclamar das ações – ou da inércia – da polícia; mas eu nunca vi, ou ouvi, alguém se conscientizar da própria culpa. A culpa é sua, minha, nossa. Todos somos culpados.
Somos culpados quando passamos pelo sinal e ignoramos as crianças pedindo esmolas, somos culpados quando agimos com preconceito, somos culpados quando excluímos. Somos culpados quando achamos, de maneira mais hipócrita impossível, que o simples fato de sermos “plateia” não nos faz atores. Até que ponto podemos dizer que somos inocentes? Até que ponto podemos dizer que somos vítimas, se somos, também, algozes? Quando o tráfico mata alguém aparentemente, por engano, ou de maneira indireta, é cruel, é triste, principalmente para a família dessa pessoa, mas isso não quer dizer que ela seja inteiramente inocente.
O desrespeito ao próximo alimenta a intolerância que, por sua vez, destrói a capacidade de discernir o que é “certo” e o que não é. Esse discernimento é essencial para a vida em sociedade de maneira construtiva. Pessoas desrespeitadas tendem a se sentir fora, à margem da sociedade. Essas são as verdadeiras vítimas. Vítimas do sistema fortemente discriminatório e competitivo, que insiste em pisoteá-las. Vítimas da corrupção de políticos covardes e sem vergonha na cara. Essas pessoas são mais que vítimas, são massa de manobra, são marionetes que caem, lamentavelmente, nas mãos do tráfico.
Por isso e, para o nosso próprio bem, já que só conseguimos olhar para o próprio umbigo, é importante que comecemos a mudar nossos hábitos e nossas ações. Além de reclamar de tudo o que há de errado, façamos aquilo que devemos fazer: unir, em vez de separar. Não estou pedindo para que você dê dinheiro no sinal ou leve um mendigo pra dormir na sua casa, embora eu já tenha pensado em fazer isso, acredite. Eu clamo é por tolerância, respeito e inclusão social. Abandonar nossas crianças é a mesma coisa que entregá-las nas mãos de bandidos, a mercê de traficantes ou da violência das ruas.
Quando abrimos mão de educar, em nosso lugar, vem alguém que não hesita em ensinar a atirar. Quando fingimos não ver o excluído, uma hora ele cansa e vai se fazer ser visto, nem que pra isso tenha que estar com uma arma na mão.
E não pense que quando as cortinas se fecharem você ainda estará na platéia. O mundo dá muitas e muitas voltas. E numa delas você pode parar na mira de um revólver. Seja você inocente ou não. O tráfico é forte e impiedoso. O tráfico é trágico.

Cansei

Já dizia Shakespeare que o cansaço ronca em cima de uma pedra, enquanto a indolência acha duro o melhor travesseiro. Quanto à indolência, não me atrevo a opinar, mas quanto ao cansaço, sinceramente até hoje ainda não vi descrição melhor que esta. Por que o cansaço, veja bem, não é simplesmente a falta da força. O cansaço invade sem que percebamos e quando nos damos conta, lá está ele, de mãos dadas com a desistência, rindo das nossas vontades. O estresse é o melhor amigo do cansaço, que é apaixonado pela preguiça, coisa que todos sentimos pelo menos uma vez todo dia. Às vezes ele te faz chorar, te faz sentir raiva, te faz sentir só. Às vezes ele é gostoso, bem-vindo, querido e até te leva pra cama, só na manha. Parece um namorado apaixonado que simplesmente não consegue te largar e que você não quer que te largue. Mas não se engane: no fundo, o cansaço é aquilo que sentimos no final de cada batalha perdida. Não adianta gritar, brigar ou justificar o que quer que seja, o melhor mesmo é se render. Não evite, não fuja. Conforme-se e aceite que tudo o que havia para ser dito, já foi. Canse bastante pra depois descansar tranqüilo. E deite-se com ele sem remorso quando sentir vontade.

setembro 18, 2010

A Dança

Não te amo como se fosse rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo:
te amo secretamente, entre a sombra e a alma.
.
Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascender da terra.
.
Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
te amo directamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
.
Se não assim deste modo em que não sou nem és
tão perto que a tua mão sobre meu peito é minha
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.

Pablo Neruda

Com par tilhando

Por que condenar um relacionamento homossexual se nele houver respeito e companheirismo? Por que diferenciar o branco do negro se o branco não tem nada que o negro não tenha, e vice-versa? Por que criar divisórias, barreiras, preconceitos que nos separam, cada vez mais, uns dos outros? Alguém, por favor, me explique o que há de errado com a diferença.
Pra que se importar tanto com a beleza exterior, se sabemos que, quando nos apaixonamos por alguém, é a personalidade única daquele ser que nos encanta? Aliás, como saber o que é belo e o que não é? Será que é verdade que só somos felizes quando não o sabemos? O que é felicidade, afinal? Você consegue definir? Não? Cuidado! Já ouvi dizer que se não conseguimos definir algo, é porque não conhecemos tal coisa. Quero crer que você é feliz.
Como pode ser tão fácil e, ao mesmo tempo, tão difícil, crescer e viver como adulto? Contudo, um dia você consegue explicar para si mesmo o porquê de tantos porquês.
As pessoas precisam, desesperadamente, colorir suas vidas. Precisam, indubitavelmente, compartilhar da mesma dor que aqueles que são excluídos sentem todos os dias, através de olhares, falas e piadas preconceituosas. Diferenças são tão importantes e unem tanto quanto semelhanças ou afinidades. Não temos o direito de questionar as preferências dos outros. São elas que os fazem ser quem são. Eu não sou a Nathália porque sou branca, baixa, magra ou qualquer outra coisa boba, aparente e superficial. Eu sou do jeito que eu quero, do jeito que prefiro, do jeito que me convém. Sou tão livre quanto qualquer outra pessoa pode ser. E isso não é muito, é verdade. Mas é o bastante para que eu me mostre. Preconceito é a coisa mais imbecil que existe.

setembro 13, 2010

A Filosofia e Eu

Não posso dizer exatamente desde quando a filosofia me fascina, mas posso dizer e, com muita certeza, de que é uma das minhas áreas do conhecimento favoritas. É claro que isso depende muito de quem você costuma ler, por que tem alguns filósofos que, mesmo para mim, são uma chatice. Enfim, isso acontece o tempo todo. Às vezes, você adora literatura, mas não consegue ler nem duas páginas de livros considerados de valor altamente significativos. O fato é que a filosofia é muito mais que uma obra ou outra, um devaneio ou outro. A filosofia é conquistadora, quando você entende e reconhece o valor que ela possui.
Muitas pessoas, conscientemente ou não, diante de todas as modernidades e praticidades dos tempos atuais, tendem a duvidar que a Filosofia valha mais que controvérsias sobre temas impossíveis e inalcançáveis e pensamentos quase que incompreensíveis. Esta visão, totalmente desprestigiada, resulta da falsa idéia de que a Filosofia serve para alcançar uma verdade absoluta, ou alguma resposta absolutamente verdadeira. Como se alguém, nesse mundo, fosse capaz de tal proeza.
O valor da filosofia está na mente de quem a defere. Aqueles que lhe são indiferentes, só poderão ver esse valor na vida daqueles que a reconhecem. Os indiferentes acham o estudo da filosofia “uma perda de tempo”. São pessoas que se enganam todos os dias, achando que a vida corriqueira e prática e os bens materiais são muito mais importantes que o bem da mente. São pessoas que acham que pensam por si mesmas, mas na verdade só pensam aquilo que os outros pensam ou querem que pensem. São pessoas que alimentam o corpo, mas não a alma, nem a cabeça. “Adotar uma filosofia de vida”, como muitos dizem por aí, não é apenas pensar de um jeito e achar que só o seu jeito de pensar é o certo. Viver filosoficamente é pensar na vida como algo que está além da nossa compreensão, mas que nem por isso devemos nos resignar com as respostas que nos são dadas, e aceitá-las simplesmente. Viver filosoficamente é entender que o mundo muda a todo segundo, e que você tem que saber lidar com isso. Viver é pensar, filosofar. Filosofia é vida. É sensibilidade. E viver não pode ser perda de tempo para ninguém.
Eu não sou filósofa, e sinceramente não pretendo ser, mas me orgulho em dizer que faço filosofia todos os dias. Faço porque aspiro conhecimento. Tenho convicções, preconceitos e crenças como todos nós, seres humanos, temos. Mas isso não me impede de maneira alguma de mudar de opinião, ou de reconhecer a minha dependência de respostas, a minha necessidade de entender até o que é impossível de se entender. Sempre que preciso, é bom fazer um auto-exame dos nossos valores, modos de pensar e etc. São essas coisas que fazem você ser quem realmente é, e não o que você tem ou que você veste ou qualquer coisa assim, mais superficial. E se você não pensa nada, você não é nada, acaba sendo só mais um no meio da multidão. E se você pensa sempre a mesma coisa, acaba ficando no passado, pois o futuro não é dos radicais.
As pessoas reclamam que a filosofia é complicada, vaga e inútil. Já ouvi até dizerem que “filosofia é coisa pra rico”. Como se os pobres fossem seres não-pensantes. O que quase ninguém entende é que a filosofia é vaga porque, se assim não for, não será filosofia. Se você pensar em uma coisa e puder explicá-la e comprová-la, bem, essa coisa já não faz parte da filosofia. Nada que pode ser explicado faz parte da filosofia. Porque a filosofia é simplesmente o não saber, é a busca por uma razão que pode até ser entendida, mas nunca comprovada. A filosofia é a dúvida inerente a qualquer pessoa.
Eu entendo que a filosofia valha para manter vivos os pontos de interrogação que trazemos conosco desde quando começamos a pensar. Esse poder de especulação vem sendo deixado de lado desde sempre. Ao longo da história, sempre teve aquele indivíduo que se deixa contaminar e se importar apenas com aquelas questões que podem ser comprovadas. Parece que esse tipo de gente sabe de tudo, não é? E o pior é que essas pessoas estão, cada vez mais, em número maior na sociedade. Poucos são os que se mostram interessados em especular, em buscar, divagar, estudar as possíveis respostas. Ou até, as impossíveis. É uma pena. Se todo mundo ficar, de repente, tão dogmático, ou que será de nós, amantes da filosofia, adoradores da dúvida?

Mais

Querer e amar, amor, querendo mais
Doendo e sorrindo, amor, eu peço mais
Arremessada ao vento, de encontro
À rocha do teu coração.

setembro 12, 2010

William Shakespeare

O amor é como a criança: deseja tudo o que vê

Ahh, chega de malfeituras...!

Mesmo com a proximidade da eleição de outubro, apenas algumas pesquisas, encomendadas pelos próprios partidos interessados, parecem ter sido divulgadas. Interessante, não? A rejeição elevada à governadora Ana Júlia tem apavorado os petistas que, por sua vez, vêm tentando melhorar este quadro, através de ações eleitoreiras. Há que se reconhecer que, mesmo em decadência, decadência essa que se dá justamente por causa de tais ações, esta rejeição não deixa de tirar o sono dos petistas.
Do lado tucano o que se percebe é a incerteza dos próprios tucanos com o resultado da campanha. Sem recursos suficientes para a disputa, a coligação de Jatene tem que se contentar com o apoio de poucos partidos e tirar proveito do fato de que algumas empresas estariam interessadas em sua volta ao poder.
A atual conjuntura política paraense já projeta o tamanho da desilusão, seja de quem for a vitória. Que maravilha de mudança nos espera!

setembro 08, 2010

Chorar Faz Parte

Chorar é um pouco triste, mas às vezes é inevitável. Ontem foi uma dessas vezes, um daqueles dias em que parece que, por mais que se tente evitar, o choro acaba saindo. E não adiantou tentar disfarçar, tentar me esconder pra que ninguém percebesse, porque parecia que era exatamente o que todos queriam ver, mesmo que inconscientemente.
Não sei se faço bem em deixar que me vejam chorar, mas afinal, que escolha tenho eu? Se, de repente, você acorda feliz da vida, cheia de planos para o seu dia, animada mesmo e, do nada, alguém resolve te frustrar, te magoar, te chatear e até te irritar, uma hora, por mais durona que você seja, você desaba. E acredite, eu NÃO SEI SER DURONA (mais uma pra minha lista). Quando duas das pessoas que você mais gosta no mundo acabam te deixando triste, as lágrimas são quase que imbatíveis. “Não é chique chorar em público”, é o que dizem, mas eu pergunto: “Nessas horas, alguém se lembra disso?”
Ainda bem que não foi preciso uma crise de choro (o que me deixaria com olheiras profundas e um nariz gigantesco e rosado), tudo se resolveu relativamente rápido, e surpreendentemente bem, diga-se de passagem. Mas eu preferiria ter chorado rios de raiva e tudo o mais, do que me sentir uma completa idiota, que foi como me senti ontem. Triste, né? Credo, fazia séculos que eu não me sentia assim.
O que será pior? Chorar por não ser como você gostaria de ser? Ou chorar por não ser aquela que gostariam que você fosse? As pessoas sempre pedem pra eu entender, pra eu me acalmar, acreditar, confiar... Mas e se eu não for capaz? E se eu, simplesmente, não quiser? Representar, segurar o choro é tão angustiante quanto o que te faz chorar.
Hoje, eu estou feliz, completamente feliz. E o que eu deixo pra você que está lendo isso é mais do que queixas, dramas e reclamações. É mais que um desabafo: é a certeza de que chorar é bom, e realmente acalma. Se você ficar com vontade de chorar, seja pelo motivo que for, não segure, chore. Se você puder se controlar, é claro, controle-se. Mas se você for como eu, desde sempre conhecida como uma “banana chorona”, jogue tudo pro alto e chore mesmo. Não esconda suas aflições. Quem disse que quem chora é fraco? Fraqueza é não saber chorar, ou não ter porque chorar. É como alguém que não vê graça em nada e consequentemente não tem motivos pra sorrir, e quando os tem, não sorri, porque não sabe.
Bobagem esse negócio de chorar com classe, chorar escondido. Bom mesmo é chorar no colo de alguém e receber a mão que te coloca pra cima. Seja de uma amiga, do namorado ou a de Deus. E quando levantar, lembre-se, a vida existe para que a vivamos com dignidade. E chorar, assim como sorrir, faz parte da vida. Sorria sempre e chore quando sentir vontade, mas não deixe nunca de tentar ser feliz.

Pela Legalização

Uma das mais antigas e importantes lutas feministas é a luta pela legalização do aborto. Antes de decidir se você é contra ou a favor, antes faça uma cuidadosa, profunda, generosa e sensível análise deste dilema. Não adianta muito entrarmos no âmbito das questões fundamentalistas, convencionais, morais e etc, etc que a nossa sociedade muito hipocritamente defende.
Políticas públicas devem ser pautadas em consonância com o Direito e a Justiça. E aí sim, veja bem, o debate se faz necessário. O que é justo para você? Será que o mesmo é justo para mim? Quando se trata de políticas públicas devemos pensar no coletivo, não no individual. Particularmente, eu não faria um aborto. E eu não faria por um monte de motivos que, no parágrafo anterior, considerei irrelevantes. Entretanto, esta é uma escolha minha e que pode mudar, inclusive.
Mesmo assim, sempre levantei minha voz em favor desta causa. Sou a favor de uma vida livre para as mulheres. Assim como nenhuma mulher deve ser impedida de ser mãe, nenhuma mulher deve ser obrigada. Sempre achei estapafúrdia a lei que permite o aborto nos casos de violência sexual. É de uma hipocrisia sem tamanho! Quer dizer que tirar o feto resultante deste tipo de relação é moralmente aceito, enquanto que tirar um feto por qualquer outro motivo (sem querer banalizar, é claro) é um assassinato? Pelo amor de Deus!
Se você concorda comigo, levante essa bandeira pela legalização do aborto com restrições de idade da criança e condições sociais de vida. Pela legalização do aborto principalmente pela abolição da prática clandestina, que já vitimou inúmeras mulheres Brasil afora e das más execuções desta. Quando a sociedade tirar da cabeça que a simples legalização do aborto não vai fazer deste uma rotina (Por favor! Abortar não deve ser nem um pouco prazeroso!), talvez respeite esse dilema pelo qual somos todos responsáveis subjetivamente. Pela legalização, pelas garantias sociais, pelo respeito.

Desculpas Para Invejar

É fato que só invejamos aquilo que é belo, aquilo que, em nossa opinião, é o melhor. Eu invejo talentos. Não que eu não seja especialmente talentosa, sinceramente eu acho que todos temos algo que nos diferencia uns dos outros; mas eu não vou revelar aqui minhas maiores qualidades, e sim as minhas limitações. Acreditem, se estou escrevendo isso é por que preciso me livrar deste triste pensamento que não quer me largar: “Como eu sou invejosa!”
Quanta coisa eu já aprendi! Quanta coisa eu já conheço! Deveria me dar por satisfeita simplesmente pelas coisas que eu sei. Mas as coisas que eu não sei (ou não sei fazer bem), em vez de serem metas, objetivos a ser conquistados, acabam se tornando desculpas minhas para invejar, uma vez que o pecado da preguiça (de aprender) é muito mais forte em mim, e acaba vencendo.

Coisas que eu (ainda) não sei:

- Falar italiano.
- Estar sempre linda, maquiada e gostosa.
- Organizar meus horários de estudo.
- Cantar
- Ser mais misteriosa.
- Ser mais fechada.
- Correr ou nadar rápido.
- Inventar apelidos.
- Ser engraçada.
- Controlar meus cartões de crédito.
- Desistir das minhas amizades.
- Perder
- Controlar ou evitar pensamentos desprezíveis.
- Ser meiga
- Proteger sempre todos que eu amo
- Trabalhos segundo as regras da ABNT
- Costurar
- Fazer pudim.
- Ter saco pra aturar raps.
- Não sentir inveja de quem sabe fazer tudo isso e não pensa em besteiras desse tipo.

Quedrogadevida!