outubro 14, 2010

Amor, Amor e Amor

Chegou a hora de escrever sobre “O Amor Natural”. Primeira coisa sobre ele: é o livro mais inquietante de Carlos Drummond de Andrade. Publicado após a morte do poeta, mostra toda a linguagem erótica e quase pornográfica de Drummond. Chocou e, incrivelmente, choca ainda hoje a sociedade. O que muitos conservadores vêem como pornografia ou obscenidade, eu vejo como arte. Acho fantástica a poesia insinuante e ao mesmo tempo nua do livro. Mas, por outro lado, entendo que pra quem esteja acostumado com os grandes questionamentos e reflexões que outros poemas de Drummond nos trazem, realmente seja difícil não se surpreender com esta outra faceta pouco conhecida do poeta.
Em “O Amor Natural”, a sexualidade está presente em cada poema, assim como os desejos, as fantasias, o corpo, o amor e, obviamente, a poesia. O bacana mesmo é observar o ritmo que cada poema tem, alguns são rápidos, corridos, afobados, quase sem pausa, parecem amantes sem fôlego. Outros, ao contrário, são lentos e sem pressa alguma, coisa que só quem ama entende. Como se cada segundo de leitura fosse um segundo a mais ao lado do seu amor. Como se cada parte da pessoa que você ama pudesse ser lida, sem pressa, sem agonia nenhuma. As metáforas são bonitas: membros são comparados a conchas, jardins, flores. O livro é, provavelmente, um relato completo dos caminhos do amor. Ou você se identifica ou gostaria de se identificar, de sentir, de viver uma ou outra história. Particularmente, confesso que invejo o desprendimento de escrever poesia sobre sexo. Por razões pessoais, religiosas e até ridículas, não tenho condições de fazê-lo. Dificilmente obras assim me atraem, só mesmo Drummond e alguns poucos autores conseguiram me fazer ver poesia em algo tão humano. Não que a poesia não seja humana, mas isso é outra coisa. Depois de ler “O Amor Natural”, entendi que o amor é mesmo, no fundo, natural. Que acontece não se sabe por quê, e acaba tão inesperadamente quanto começou. Sexo é só uma maneira de fazer amor. A mais natural de todas, é claro.

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