março 16, 2011

Descendência

Tu rolavas a cabeça pra um lado e pro outro, numa alegria ou euforia ou energia incompreensíveis. Tu rolavas e os meus olhos não rolavam de ti um segundo sequer. Eu tinha medo do acaso, da ventura, do azar. Tantas histórias, a gente ouve por aí. Tinha medo de não saber o que fazer quando estivesses em meus braços, de tu seres ainda mais frágil do que já aparentavas ser. Mas pensava: “Aí já é abusar, né?” A gente queria saber como te sentias ali, se estavas alegre, ou se eras simplesmente hiperativo. Eu me lembro de uma mãe que não se preocupava com isso, nem lia histórias quando seu bebê ainda estava na barriga, nem o amamentou no tempo certo, porque pra ela isso tudo era besteira. Não vou me esquecer nunca de sempre me importar contigo, eu prometia e prometo incansavelmente. Esse papo de promessa é meio repetitivo, as pessoas estão sempre se prometendo, né? Mas essa é a menor das minhas promessas, então acho que tudo bem. As grandes eu calo, porque promessa é feita pra ser cumprida e eu vou... ih, eu não aprendo mesmo.
Meu caro, a leve sombra de um sorriso projetava em mim gargalhadas loucas. A imobilidade ou a dormência projetavam em mim um medo insano. Por que ele não ta se mexendo? Por que não está mais chutando? Por que parou de rolar? Sim, tu eras lindo rolando. E não era só eu que achava, tenho certeza. A lembrança mais linda de todas que trago da vida. Ninguém tinha entendido nada, mas eu podia te decifrar por inteiro, cada parte do teu corpo, como se já tivesse te estudado há muito tempo. É... às vezes só precisamos sentir as coisas, e não sei se algum dia vou chegar a te sentir como se não fosses parte de mim. Porque de certa maneira, estarás sempre dentro de mim. Quanto de mim tem aí dentro? Quais características minhas também são tuas? Vamos brindar a essa herança compartilhada! Que alegria poder viver pra outra pessoa! Eu vivo pra você desde muito antes daquele dia, nasci pra viver pra você, hoje eu sei.
E a cada dia você cresce, e a cada dia te amo mais. Vivo à sombra desse amor, como de muitos outros, e não reclamo. Quando o médico apontou a tela e disse que o meu bebê era um menino, tive medo, vontade de chorar, não entendi nada. O que eu soube, com toda a certeza, era que eu seria a pessoa mais ciumenta do mundo. Até então, esperava uma menina. Via a mim mesma ensinando à minha princesa tudo o que minha mãe me ensinou. Mas eu palpitei errado. No que eu não erro, meu Deus?! Que menina, que nada! E assim a vida vai passando e eu vou errando, meu filho. A mamãe aqui só aposta errado, e mesmo assim tem uma sorte danada em quase tudo. Poucas pessoas nesse mundo são tão sortudas quanto eu, afinal!

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