outubro 31, 2010

Virou Nada

A razão de tudo está no teu costume irritante de se negar a tudo. Te negaste a me falar a verdade, negaste a ti mesmo o prazer de se abrir com alguém que realmente se importa contigo. Como se o meu ombro fosse pouco pros teus desabafos, e o meu interesse fosse apenas uma curiosidade urgente de te decifrar. Eu queria trocar experiências, impressões ou simplesmente te ouvir. Não me deste atenção. Já eu não nego que sempre quis te decifrar, desvendar teus mistérios encantadores, não nego que é só me pedires qualquer coisa, e terás qualquer coisa. Assim como não nego minha raiva, quando te fechas como uma ostra.
Ainda desejo saber como foi aquela festa, como foram aqueles dias em Fortaleza, quais são teus comentários quando te indagam sobre mim. Mais que isso: ainda quero saber qual o motivo pra essa expressão tensa e carregada que vejo estampada no teu rosto, mesmo de longe. Ainda quero ouvir tuas verdades, ainda quero que procures meu ombro.
Já te contei que os passarinhos voltaram a visitar minha cozinha? Aliás, já te contei que tô fazendo um curso de gastronomia e culinária pela internet? Às vezes eu me escondo de ti, quando te vejo passando em frente à minha sala, na Federal... Ainda acho que a Universidade tem cheiro de chuva, como sempre te falei. Me escondo porque é mais fácil me esconder que te encontrar e não querer te contar mais coisas. E não posso te contar mais nada, porque cansei de dar, preciso receber também. Falar cansa, ouvir alivia. Preciso saber teus medos, ver que és humano, frágil, dependente de amor tanto quanto eu. Pro inferno com teus mistérios e tuas negações! Pro inferno esse teu rosto sisudo! Fica com eles e me deixa em paz, não me deixa te contar mais nada. Vou pegar meu ônibus e tentar não pensar mais em ti, te transformar em nada, porque tu nunca pensaste em como eu quis (e como quis, meu Deus!) te entender.

outubro 29, 2010

I Miss You

(...)
You do something to me that I can´t explain.
so would I be out of line if I said,
I miss you

I see your picture,
I smell your skin on the empty pillow, next to mine.
You have only been gone ten days,
but already I´m wasting away.

I know I´ll see you again
whether far or soon.

But I need you to know that I care.
and,
I MISS YOU.
                                                                             Incubus

outubro 28, 2010

O Bom da Vida

Acho admirável o dom que certas pessoas têm de se entregar, de se doar com honestidade à vida. Digo isso porque temos mania de criar prioridades, compromissos e acabamos esquecendo que o nosso primeiro compromisso deve ser sempre aquele com nós mesmos. Talvez essas pessoas sejam as que mais sofrem e mais levam tapas, mesmo assim, acho lindo quem mergulha sem medo naquilo que acredita.
Mais importante que o que você tem na vida, é quem você tem na vida, alguém já disse. Admiro quem entende que as pessoas são diferentes por natureza, e que podem ser tão parecidas ao mesmo tempo. Admiro quem sabe fazer uma bela amizade respeitando o espaço do outro, e quem sabe fazer de um sentimento como o ciúme algo como cuidado, dedicação. Admiro gente do bem, que faz o bem e que quer o bem. Tenho pessoas tão frias quanto gelo e outras tão calorosas quanto fogo, e quando se misturam isso não quer dizer que uma derreta a outra. Tenho pessoas tão impulsivas que te conhecem e te contam a própria vida em cinco minutos e tenho pessoas que se fecham por anos, e quando se abrem geralmente não falam de si. Mas isso não quer dizer que uma não tenha paciência com a outra.  Já tive paixões que deixaram muita saudade e amores intermináveis que, um dia, terminaram em nada.
O bom de viver é entender que tudo passa e o tempo não volta. Se as coisas acontecem da maneira que queremos ou não, o importante é que tenhamos pessoas amigas, verdadeiras e que nos ensinem a viver melhor sempre. Aprendo muito em conversas inúteis, textos bobos e músicas bregas. Assim são as pessoas: não as subestime. Todos podem te ensinar, acredite. Entregue-se às suas vontades, urgências, desejos. Não seja desleal com ninguém, mas acima de tudo não seja com você.
O bom de sentir é entender que alguém ou alguma coisa conseguiu algo de você, e que você está entregue a isso. O bom de viver é saber que tudo tem um fim, e que antes que o nosso fim chegue, podemos terminar várias vezes qualquer coisa e começar outra, pra nos entregarmos outra vez, de corpo e alma.  

outubro 26, 2010

Estradas Vazias

Como sou feliz, eu quero ver feliz quem andar comigo... Vem?


Ontem

Caminhei por uma trilha comprida e solitária, já que o vento não era ninguém e, ainda assim, era o único a me fazer companhia. Até que parei. À minha frente, a trilha estreita se bifurcava. Como se fizesse parte do meu corpo, meu companheiro puxou-me para um dos lados. Não hesitei. Me entreguei à sua vontade sem olhar para o que havia ficado pra trás, pois não havia beleza nenhuma ali. Meu novo caminho era frio, e esse frio me entranhava o corpo todo. Doíam minhas costelas, tremiam meus braços e pernas e mãos e pés.

Hoje

Continuo percorrendo meu caminho solitário. Hoje eu vejo carros, luzes, pessoas, mas me sinto tão só quanto ontem. Quando chove, a sensação dentro de mim é um vulcão. Um vulcão em fase pré-erupção. Querendo queimar com seu rio de fogo tudo que há pela frente. Mas a estrada é vazia. Não há nada mais desconcertante que ser contraditória. Nada mais humano que se sentir um a mais no meio de tantos.

Sempre

O vento me empurra, bate, me joga. A chuva me queima, corta, rasga. Quantos caminhos ainda me restam? Sou rio, sou vulcão. Sou só, sou multidão.

outubro 23, 2010

Cor de Casca de Batata

Às vezes me bate uma vontade doida de ser qualquer coisa que não o apropriado, o esperado. Uma vontade imensa de ser diferente. Não sou falsa, dissimulada, nem coisa pior, mas o que posso fazer se gosto de dar uma de personagem? O que posso fazer se há uma vontade imperiosa dentro de mim de ser narradora? Eu gosto de histórias, e gosto de contá-las. Às vezes apenas contar me basta. Às vezes, não. Eu tenho que participar, de algum jeito. Coitado daquele que não se entrega nem por um momento ao mundo da própria imaginação! Há coisa melhor que transformar o cotidiano banal e repetitivo de sempre em literatura? 
Sendo assim, vou agora escrever o pensamento literário que me ocorreu esta noite. Desde já, quero dizer-lhe que não terá a história completa, mesmo que eu quisesse (e eu não quero), não teria como contá-la por inteiro. Faltam-me palavras. Também devo adverti-lo do caráter pessoal e íntimo que lhe reveste. Com certeza, é mais relevante para mim do que para você, e eu não vou tentar disfarçar isso. Então, se você se sentir perdido, tudo bem. Só estou escrevendo mesmo porque eu não quero me perder. Sinto muito por você. Azar o seu de não ter vivido o que eu vivi, de não ter sido o que eu fui, e agora terá que se contentar com as descrições toscas que passam pela minha memória e saem dos meus dedos para o teclado. Azar o seu de viver de realidade. O que tenho a contar é o seguinte:
O céu, negro. Uma noite sem estrelas. Uma noite fria. Uma chuva fina. Ela, sozinha como a lua no céu. Já nem sabia porque estava ali, mas estava.  Chorar é um verbo muito forte pra definir a ação a que ela se entregava. Talvez não haja um verbo pra definir esta ação, mas podemos dizer que gotículas de lágrimas em dúvida brilhavam no seus olhos. Algumas decidiam-se por cair e manchar-lhe o rosto, outras resolviam transformar-se em qualquer outra coisa e apenas emprestavam seu brilho molhado ao olhar cansado. Entre ela e a chuva já não existia espaço algum, diferença nenhuma. Ambas resignavam-se e partilhavam da mesma sensação: a obrigatoriedade. Por que ela chorava? Porque tinha que chorar, ela sabia disso. Assim como a chuva sabia que deveria chover, pois era da natureza que ela caísse e a natureza é sempre obrigatória. Será que aquela folha caída há pouco era uma lágrima da árvore ao lado? Estranho esse negócio do mundo chorar com a gente! Olhando bem, a única coisa contrastante, alegre e quente, era o poste na frente da casa. Estranho esse negócio de “cor”... Nesse momento, a luz do poste não era amarela, nem branca, nem nada que lembrasse luz. Era pálida. Tinha cor de casca de batata.
A mulher, silenciosa, contemplava a chuva e esperava o amanhecer. E, no silêncio, no frio e na tristeza de uma madrugada insone, a mulher entendeu quem é. Ela sou eu tentando ser outra. Riu de mim com quem ri de uma criança tola, que não entende sua razão de ser. Eu não sei o que ela pensa, gasto palavras sem o menor remorso, enquanto que ela é silenciosa e misteriosa. Ela existe porque eu não me basto. Em minha defesa, argumento que não sou a única. Quem não quer ou nunca quis ser diferente? Você já quis? Tenho certeza que sim. Vai, assume. Ria de você mesmo. Não tem ninguém olhando. Esqueça que você é bicho social. Seja bicho natural mesmo. Siga uma vez o instinto. Deixe a sua natureza comandar você. Se os outros não te entenderem, finja que você é um poema. Ninguém vai precisar te entender pra ver que há poesia aí dentro.
Dúvidas, dúvidas, dúvidas e mais dúvidas. Essas dúvidas ainda me matam. Qual das duas sou eu agora? Melhor não saber. Que diferença faz? Eu sou muitas. E às vezes não chego a ser o suficiente pra uma só. Talvez as dúvidas, os problemas se resolverão se eu ficar calada. Talvez se resolverão se eu desabafar, “botar pra fora”. Se você é meu amigo, não me cobre explicações. A única que eu posso dar é que eu estou a um passo da loucura. Uma loucura gostosa, uma doidice sã. Gosto de ser eu mesma, e às vezes gostaria de ser outra, por cinco minutos ou mais, tanto faz. Não me invada o coração com fatos, ciências exatas, soluções lógicas. Eu gosto do improvável e sempre namorei o impossível. Eu gosto das cores alegres, mas sempre namorei o escuro, mesmo tendo medo dele. Mesmo gostando do rosa-bebê, o vermelho-sangue me atrai.
Pobres almas solitárias! Eu sou eu e eu sou muitas. Nunca estou sozinha. Vejo beleza onde não há, poesia onde ninguém vê e me permito experimentar de tudo. Me despeço com uma vírgula, mas o texto não vai continuar, pelo menos não aqui. A vírgula é uma homenagem minha à minha companheira de ontem, pra que ela continue escrevendo o resto em mim. Sim, porque eu sou um papel. Posso ser um papel amassado, rasgado, riscado, mas sou um papel. O que tem dentro de mim que me mancha, me rabisca. Como narradora que gosto de ser, também cabe a mim o papel de escolher o que eu mostro. Se você não gostar, vire a página, me dê uma segunda chance. Eu sou infinita.

outubro 15, 2010

Saber Amar

Não quero ser sem saber
Pois sei que amo sem querer
E hei de amar sem por quê
Será o que transcender
Que será tanto amor
E tanto querer

outubro 14, 2010

Amor, Amor e Amor

Chegou a hora de escrever sobre “O Amor Natural”. Primeira coisa sobre ele: é o livro mais inquietante de Carlos Drummond de Andrade. Publicado após a morte do poeta, mostra toda a linguagem erótica e quase pornográfica de Drummond. Chocou e, incrivelmente, choca ainda hoje a sociedade. O que muitos conservadores vêem como pornografia ou obscenidade, eu vejo como arte. Acho fantástica a poesia insinuante e ao mesmo tempo nua do livro. Mas, por outro lado, entendo que pra quem esteja acostumado com os grandes questionamentos e reflexões que outros poemas de Drummond nos trazem, realmente seja difícil não se surpreender com esta outra faceta pouco conhecida do poeta.
Em “O Amor Natural”, a sexualidade está presente em cada poema, assim como os desejos, as fantasias, o corpo, o amor e, obviamente, a poesia. O bacana mesmo é observar o ritmo que cada poema tem, alguns são rápidos, corridos, afobados, quase sem pausa, parecem amantes sem fôlego. Outros, ao contrário, são lentos e sem pressa alguma, coisa que só quem ama entende. Como se cada segundo de leitura fosse um segundo a mais ao lado do seu amor. Como se cada parte da pessoa que você ama pudesse ser lida, sem pressa, sem agonia nenhuma. As metáforas são bonitas: membros são comparados a conchas, jardins, flores. O livro é, provavelmente, um relato completo dos caminhos do amor. Ou você se identifica ou gostaria de se identificar, de sentir, de viver uma ou outra história. Particularmente, confesso que invejo o desprendimento de escrever poesia sobre sexo. Por razões pessoais, religiosas e até ridículas, não tenho condições de fazê-lo. Dificilmente obras assim me atraem, só mesmo Drummond e alguns poucos autores conseguiram me fazer ver poesia em algo tão humano. Não que a poesia não seja humana, mas isso é outra coisa. Depois de ler “O Amor Natural”, entendi que o amor é mesmo, no fundo, natural. Que acontece não se sabe por quê, e acaba tão inesperadamente quanto começou. Sexo é só uma maneira de fazer amor. A mais natural de todas, é claro.

outubro 13, 2010

Dis para



Essa é a melhor hora do meu dia, aquela em que sinto uma fominha que vem desde o longínquo jantar que já até esqueci o que era. Meus olhos ainda estão pesados de sono, mas na verdade estou mais atenta do que nunca. De fato, eu sou assim: no início do dia, apesar de estar com os olhos pesados, com as pernas doloridas de tanto treinar grand battement, é quando me encontro em melhor disposição. Essa é a melhor hora do meu dia simplesmente porque o meu dia está começando.
De tanto ficar sentada, aqui, na frente do computador, lendo os blogs alheios, pensando na aula que eu vou dar daqui a pouco, tentado lembrar de qualquer coisa de morphosyntaxe du français, ou de qualquer coisa de responsabilidade civil, pensando que vou passar mais uma tarde inteira fazendo passé, plié, e grand battement, pensando em como a vida é boa, alegre... Chega! Antes que eu me perca por aqui.
Movida a muita cafeína, amaldiçoei o maldito tempo, que dispara ferozmente para todos que precisam do seu corpo para serem artistas. Quem dera bailarinos fossem ficando melhores com o passar dos anos! Quanta injustiça! Quantos médicos, professores, compositores, empresários, escritores e etc não realizaram seus maiores feitos na carreira depois dos 45? Às vezes esqueço que um dia a hora de pendurar as sapatilhas definitivamente vai chegar. Ah, eu não tenho que pensar nisso agora. Ainda tenho 21 anos, ainda dá pra dançar muito balé, graças a Deus.
Quando meu tempo de bailarina chegar ao fim, não negarei as lembranças, apoios, felicidades e até os tapas que eu já levei. Vou sentir falta das dores nos pés, nas costas, dos tombos. Mas agradeço desde já, por cada dia que eu vivo dessa arte que me constrói. Sim, porque o balé me construiu, ao longo desses anos, bailarina. E como toda bailarina que se preze, aposentada ou não, o amor que eu trago no peito pela minha arte é único e máximo, por mais que o tempo seja cruel, certas coisas não se perdem jamais. E deixe-me ir que o meu dia está só começando.    

outubro 11, 2010

Antônio e Cleópatra

Antônio e Cleópatra (Antony and Cleopatra, no original em inglês) é uma peça de William Shakespeare. Dividida em cinco atos, que são recheados de intrigas políticas misturadas a calorosas declarações de amor, a peça nos proporciona um encontro com toda a linguagem monumental deste genial dramaturgo inglês.
Em sua fase plena e madura, Shakespeare constrói esta tragédia que tem como tema o romance entre o romano Marco Antônio e Cleópatra, a rainha egípcia. Dois personagens marcantes, impetuosos e apaixonados que emocionam em todos os momentos desta que é uma das mais envolventes obras históricas de Shakespeare.
Com amigos da corte, os dois amantes fundaram aquela que seria sua primeira sociedade: “A Vida Inimitável”. A idéia era muito simples: cada um teria de surpreender os demais com prazeres inéditos. Foram dias e dias de delícias até que dois mensageiros de Roma trouxeram Marco Antônio à realidade, com a notícia da invasão de Otávio na Ásia Menor, Síria e Judéia. Marco Antônio, então, voltou à Itália e fez um acordo com Otávio. Para selar a reconciliação, casou-se com Otávia, irmã de Otávio. 
Cleópatra, em Alexandria, teve seus dois filhos gêmeos: Alexandre Hélios e Cleópatra Selene. Durante três anos, não viu Marco Antônio. Entretanto, depois deste tempo, o encontro foi dos mais apaixonados. Ao mesmo tempo em que Cleópatra pretendia conquistar de uma vez o amante para garantir a grandeza de seu reino, Marco Antônio precisava dela para dominar o Oriente e vencer Otávio. Reencontraram aquela vida inimitável dos tempos passados.

Os dois resolveram casar-se segundo a norma egípcia, que permitia a poligamia. A imagem de Marco Antônio is se degradando pouco a pouco, junto à opinião pública romana. Otávia, fiel esposa, ainda ajudava Marco de todas as maneiras cabíveis. De maneira que Cleópatra entregou-se a um teatro dramático. Já não comia, demonstrava sua aflição e ciúmes controlada e calculadamente, derramava-se em lágrimas. Marco Antônio, convencido pelo espetáculo de Cleópatra e, dando ouvidos aos cortesãos, que diziam-lhe: “Como podes deixar definhar uma pobre mulher que só respira por ti? Podes comparar uma esposa que uniu-se a ti por razões políticas e a soberana de um tão grande reino que, separada de ti, não poderá mais sobreviver?", decidiu-se por Cleópatra.
Com sua atitude, Marco Antônio rompeu os frágeis laços que ainda o uniam a Roma. Depois de um longo e decisivo combate, os navios de Otávio derrotaram os de Cleópatra e Marco Antônio. O casal fugiu, mesmo que sem rumo, pelas ruas de Alexandria. Sabiam que os dias de liberdade estavam contados, mas ainda assim entregaram-se a mais prazeres extravagantes. Com amigos, fundaram uma nova sociedade, "A Espera da Morte em Comum", e passavam o tempo como se cada noite fosse a última.
Um dia, pela manhã, Cleópatra trancou-se com duas de suas amas no mausoléu. Deu ordens para que trancassem a porta e dissessem a Marco Antônio que se matara. Este, por sua vez, entendeu que também devia morrer. Atingiu o próprio ventre, mas não faleceu de imediato. Neste instante, chegou o secretário de Cleópatra anunciando que ela continuava viva. Marco Antônio, morimbundo, pediu para ser levado ao mausoléu. “Pela janela, desceu uma corda à qual amarramos Marco Antônio. As três mulheres, puxando a corda com as mãos, alçaram com muita dificuldade nosso general agonizante e coberto de sangue.", contou um servo.
 Cleópatra recebeu-o e, rasgando suas próprias roupas, arranhando seus próprios peito e face, abraçou o moribundo chamando-o de seu senhor, seu esposo e seu imperador. Marco Antônio pediu uma taça de vinho, bebeu e, num último suspiro, aconselhou a Cleópatra que salvasse sua vida se pudesse fazê-lo de maneira honrada.
Pálida, magra e ferida, a rainha do Egito não era mais a sombra do que fora um dia, quando Otávio decidiu visitá-la. Uma última vez, Cleópatra tentou seduzir um general romano. Em vão. Informada de que preparavam o navio que devia conduzi-la a Roma com os filhos, pediu para voltar ao mausoléu. Trouxeram-lhe uma refeição suntuosa e depois ela trancou-se com as duas amas. Numa mensagem, pediu a Otávio para ser enterrada junto com Marco Antônio. Compreendendo o que se passara, Otávio enviou a guarda em toda diligência. Tarde demais: Cleópatra estava morta.
"Eu sabia", confiou o médico de Cleópatra, "que já há várias semanas nossa rainha decidira morrer. Em minha presença, testou, nos condenados à morte, várias espécies de veneno. Queria encontrar aquele capaz de provocar uma morte rápida, suave e sem alteração do corpo. Não pude determinar a causa do falecimento das três mulheres, mas vi no braço de Cleópatra duas pequenas picadas. Sabia que a rainha sempre levava no cabelo um alfinete contendo veneno. Pensei também na mordida de uma víbora. Com efeito, um guarda me contou que, durante a refeição, um camponês veio trazer à rainha uma cesta de figos que podiam, talvez, ocultar uma serpente. Mas eu não encontrei nesse local hermeticamente fechado nem alfinete de cabelo nem víbora alguma".
Cleópatra tinha 39 anos quando escolheu ir ao encontro do amado e da morte. Comovido por sua fidelidade, Otávio autorizou seu enterro junto a Marco Antônio no mausoléu real. Uma só sepultura reuniu para a eternidade esses dois terríveis amantes, cujo romance transformou o curso da história do mundo romano.


outubro 05, 2010

Renoir

(Coucher de Soleil à La Mer, de Renoir)

Pierre Auguste Renoir (1841-1919) é um dos mais fantásticos pintores franceses. Chegou a pertencer à escola impressionista, mas se afastou rapidamente, por causa de seu interesse pela pintura de corpos femininos sobre paisagens. Falando em paisagens, esta aí em cima é minha favorita, se é que é possível escolher uma entre todas as célebres obras deste artista. Renoir tem como grande característica abordar a vida social urbana, o que também fascina seus admiradores mundo afora. Resolvi escrever sobre ele porque era uma coisa que eu ainda não tinha trazido pra cá: minha paixão, há muito esquecida e deixada de lado, pelas artes plásticas. Espero que gostem!